Ser, estar, fazer. Assim de relance, três verbos. Mais que isso. Três condições humanas. Explico, a começar do último.
Fazer humano. Trata-se da condição humana de quem está sempre em ação, realizando algo, ininterruptamente. A pessoa vive para ticar itens da lista de afazeres, da manhã à noite. É possível que continue assim até durante o sono, em sonhos.
O fazer humano se ressente de que a vida está passando muito rápido, não há tempo para tudo e a sensação constante é de ansiedade, em razão das coisas pendentes. Para o fazer humano, é muito frustrante deixar algo para trás. Mesmo que isso realmente seja inevitável. O fazer humano tem a estranha mania de arranjar tarefas. Sempre mais, mais e mais. Com a tecnologia digital, o ritmo da vida acelerou-se maneira exponencial, tornando o cotidiano repleto de novidades que preenchem os lapsos de tempo do fazer humano, gradativa e inexoravelmente mais dependente dos afazeres, dos tiques nas listas, das pendências.
Estar humano é outra condição, caracterizada por quem está, mas não consegue ser. Assemelha-se ao fazer humano em um aspecto: o de esquecer quem é e porquê. No mais, vive a acídia, ou seja, o enfraquecimento da vontade para qualquer tipo de fazer. Se o fazer humano beira a euforia, na ânsia de realizar tudo o tempo todo, o estar humano vive a anomia, no desinteresse por si e pelos outros.
Ser humano é uma busca. Não nascemos, mas sim tornamo-nos humanos. É algo que exige propósito, preparo e presença.
Como ser humano sem uma existência que tenha sentido? Para isso, é preciso o propósito. Como ser humano sem uma experiência em que haja aprendizado? Para isso, urge o preparo. Como ser humano sem uma vivência em bom estado de espírito? Para isso, é imprescindível a presença.
Ser humano exige a consciência dessa condição e o desejo de conquistá-la. Essa consciência é que nos faz passar do fazer e do estar humanos para a condição suprema de ser humano, sem nos esquecer de que essa é a nossa vocação. Para isso estamos aqui. Ao vivermos a vocação, nossa vida torna-se uma aventura fértil revestida de significado. É quando o nosso fazer e o nosso estar adquirem outra dimensão, a partir de um ser mais integrado, coerente e eficaz. Com a sublime alegria de viver a plenitude.