A sabedoria do velho

Quando perguntei ao velho sobre como havia lidado com as encruzilhadas da vida, ele respondeu não sem antes respirar fundo:

“As encruzilhadas são inevitáveis. O que importa é não temer o caminho ainda desconhecido. ”

E acrescentou:

“Cada decisão define o caminho, enquanto molda o caminhante. Quando o caminhante acerta, ele prossegue. Quando erra, ele aprende.

Por conta dos erros e acertos – algo que também recebe o nome de experiência -, o caminhante refina a intuição, sua fiel companheira tanto das caminhadas quanto das encruzilhadas. Ela é a sabedoria interior que amadurece com a experiência”.

Apreciei o que o velho disse, mas quis beber mais da sua sabedoria e experiência de vida e ele não se fez de rogado:

“A pressão e a pressa turvam a visão do caminhante. Cultivar o discernimento e a parcimônia faz com que a caminhada seja feita com nobreza. Isso inclui pausas e tempo dedicado à reflexão”.

E continuou:

“É bom ver cada encruzilhada com distanciamento. De chofre, é fácil cair na cilada do caminho sedutor, mas nada conveniente”.

Curioso, eu quis saber quais as encruzilhadas que foram mais determinantes para ele, que me confessou, falando longamente:

“A primeira é aquela que dá a direção: o meu caminho ou o que outros esperam de mim. Desejaria ter tido a coragem de criar uma vida para mim, não a vida que outros esperam de mim.

A segunda é a escolha entre o trabalho como rendimento e o trabalho como divertimento. A primeira alternativa é geradora

de ansiedade e a segunda, de criatividade. Desejaria ter me divertido mais do que me preocupado tanto.

A terceira trata dos sentimentos. De um lado, a vergonha de expressá-los, de outro, a autenticidade. Desejaria ter tido a coragem de expressar os meus sentimentos, mesmo que eu parecesse vulnerável.

A quarta trata da amizade e do tempo a ela dedicado. Quantas vezes as ocupações e as preocupações competiram com o tempo para os amigos e sempre me arrependi quando não os priorizei. Desejaria ter ficado em contato com eles e, de vez em quando, abrir uma garrafa de vinho para brindar sem hora marcada.

A quinta encruzilhada, com a qual me deparei frequentemente, foi o impasse entre rejeitar o oposto ao invés de aceitá-lo. Aprendi que a equanimidade é um grande dom e fazer as pazes com os opostos que me habitam ajuda a aceitar os opostos que acabo projetando nas outras relações.

Nem toda encruzilhada é uma bifurcação. A sexta oferece três alternativas: a vida como um mar de lágrimas, a vida como um paraíso na terra ou, simplesmente, uma vida interessante. Desejaria a simplicidade de uma vida interessante, mesmo sendo temperada com pontadas de sofrimento e pitadas de felicidade.

Entre a lembrança e a esperança da sétima encruzilhada, recomendo a segunda, mantendo sempre a confiança no instigante e benfazejo processo chamado Vida”.

Escutei e calei-me, reflexivo.

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