Depois de ouvir o velho com atenção, resolvi recorrer ao menino. Fiz a ele a clássica pergunta “o que você quer ser quando crescer? ”
Para a minha surpresa, ele respondeu que não queria crescer. E explicou, com uma profundidade instigante:
“Crescer é adultar e adultar é adulterar. Logo resvalaria para segundas intenções que só me trariam prejuízos futuros.”
Notei que ele brincava com as palavras, inventando o que não existia. Sem ser questionado, ele seguiu:
“Não gosto quando me dizem ‘esse menino tem futuro’. Sabe o que escuto? Esse menino vai se formar, ganhar muito dinheiro, ficar rico, ter muitas coisas. Incomoda ser um meio para conseguir bens e compor patrimônio. Nada contra ganhar dinheiro, mas não parece que esse deva ser o meu propósito de vida. ”
Quis saber, então, o que ele colocaria no lugar de crescer/adultar/adulterar e ele prosseguiu no mesmo e divertido tom:
“Florescer/criançar/maturar, sem perder de vista a primeira intenção. ”
Perguntei a ele o que é “criançar”, e ele me respondeu como se tivesse intimidade com a palavra:
“Criançar é viver a vida com propósito e também com leveza.
É fazer parceria com Deus e, junto dele, ser cocriador do universo.
É criar uma história em que a primeira intenção se mantenha dando o Norte, ao invés de viver sem rumo. Uma vida mais colorida do que sem cor, mais saborosa do que insonsa, mais livre do que previsível. ”
E continuou:
“Quero ser eu mesmo e realizar os meus sonhos, não os sonhos dos outros.
Desejo continuar descobrindo o mundo, sem esquecer como é bom brincar e ser curioso.
Pretendo saber o que me alegra e o que alegra os outros. Quero me divertir com a vida, mas também cuidar dos outros e do mundo ao meu redor. ”
Retornando à pergunta inicial, comentou:
“O que vou ser quando crescer, eu ainda não sei ao certo, mas desejo que seja algo que faça o meu coração se alegrar todos os dias.”
E, olhando nos meus olhos, arrematou:
“Eu quero ser o seu novo começo e o seu confiante sim. ”
Escutei e refleti, calado.