Gandhi não inaugurou – que se saiba – nenhuma obra quando era o principal líder da Índia. Ao contrário, o seu grande feito foi conquistar, para as gentes, a independência de seu país do jugo britânico. Existe a política das coisas (incluindo as obras) e existe a política das gentes (incluindo a liberdade), como no caso de Gandhi e a Índia.
Em tempos de eleição, os debates e as propostas teimam em tratar mais das coisas do que das gentes. É sempre a mesma cantilena das quantidades (de escolas, habitações, estradas, pontes, presídios), em lugar das qualidades (de educação, consciências, valores, virtudes, talentos). Ou seja, a quantidade das coisas se sobrepõe à qualidade das gentes. As coisas se ampliam, mas as gentes ficam sempre do mesmo tamanho, quando deveria ser o inverso.
Gandhi não queria inaugurar obras, queria gerar um povo. Essa é a verdadeira política, o resto é coisa de empreiteiras. A caminhada que fez com o povo em direção ao mar para preservar o sal que seus compatriotas compravam dos ingleses pode ser considerada um gesto menor, mas não é. Enquanto caminhavam, sonhavam. Enquanto sonhavam, ardia em cada um a chama do desejo de liberdade. Assim se eleva a alma de uma nação: por meio de um propósito, não de inaugurações de obras quase sempre inacabadas ou até desnecessárias.
Moisés também caminhou por quarenta anos pelo deserto em busca da Terra Prometida. Quando lá chegou, negou-se a acessá-la. Não se tratava da terra – ou da coisa -, mas da formação de um povo – as gentes – e de uma nação.
O mesmo fez Luther King Jr., que também nunca inaugurou obra nenhuma. Marchou com o povo. O foco estava nas gentes, não nas coisas.
Promessas de obras não formam uma nação. Promessas de dias melhores, como se a realidade se transformasse como num passe de mágica, também não.
Há quem inaugure coisas e há – espero que exista – quem inaugure gentes. E é bom que se saiba sobre gentes. Elas não querem coisas, muito menos dadas sem que as conquistem. Elas querem ser capazes, descobrir suas potencialidades, romper os bloqueios que as impeçam de progredir, viver com dignidade e ser cada vez mais gentes com outras gentes.
Um país cresce com coisas – a conta do velho PIB -, mas uma nação se desenvolve com a efetiva e consciente participação das gentes.
Sensacional . Prometem-se coisas como que acaso pudesse ” coisificar ” as pessoas.
Parabéns Roberto!!