O cerne do problema está nesse persistente apartheid que separa o econômico do social, como se fossem campos opostos e não mescláveis: a água e o azeite, ou os belos personagens românticos do feitiço de Áquila – um que só podia viver à luz do dia, outro, que só à noite.
O econômico pelo econômico produz misérias sociais, é só olhar para o mundo ao seu redor a um raio de 2 km apenas. O social pelo social causa pobreza econômica. As fórmulas excludentes são muito conhecidas e sabemos dos seus efeitos devastadores. Dissociar o econômico do social é a semente perfeita para gerar as catástrofes humanas das quais, mantida essa separação, jamais nos livraremos. Precisamos fazer com que o econômico se enamore do social e vice-versa, para que ambos, unidos e em constante harmonia, possam gerar filhos promissores, capazes de criar uma nova humanidade, a verdadeira terra prometida.
A parte que nos cabe
É comum culpar o governo e a economia pelas mazelas tanto sociais como econômicas. Mas e a parte de cada um? Primeiramente, é preciso identificar com lucidez o que é sujeito e o que é objeto, no mundo dos negócios. Sujeito é geralmente representado pelo pronome “quem”. Quem planeja, elabora, produz, atende, serve é sujeito. Quem demanda, compra, consome, usufrui e é servido também é sujeito. Todo o resto é objeto: o produto, o maquinário, o processo, os insumos, os controles, a nota fiscal, a duplicata, a comercialização, o dinheiro e o balanço.
O econômico tende a transformar tudo em objeto. O “quem” é tratado como coisa, não importa se faz ou compra. É o que acontece quando o lucro se transforma em sujeito e senhor de tudo. Sim, porque leva a um desvio cruel: transforma pessoas em objetos descartáveis, sejam funcionários, clientes, fornecedores, investidores. Sem distinção, todos são vistos apenas como meios de aumentar o volume de caixa. Quando o econômico se sobrepõe ao social, fica automaticamente eliminada qualquer possibilidade de evolução humana, ainda que se possa conseguir acumulação de renda, durante um certo período de tempo.
A nossa verdadeira vocação
Paulo Freire dizia que o “homem é objeto por distorção, mas sujeito por vocação”. Toda calamidade humana decorre dessa inversão de valores e de trocar os fins pelos meios. As crises são os avisos de que as coisas estão fora da sua ordem natural. Assim como o corpo humano produz febres, náuseas, vômitos e diarréias diante de uma ameaça ou de um agente estranho, a crise é a reação do sistema quando o objeto persiste em sobrepor-se ao sujeito, acionando – no ápice do processo – um alerta de que a saúde precisa ser restaurada.
Viver a nossa verdadeira vocação está ao nosso alcance e isso cria uma nova economia. Quando cada um de nós dá um passo, toda a Humanidade caminha um passo.
Muito bom!
Sempre gostei da palavra consciência, sempre acreditei em uma consciência reativa e não relativa. A consciência reativa não se ampara nas situações, porém promove a ação a fim de solucionar aquele problema ou discussão. A relativa já é oposta, e escolhe o que ignorar, conforme a “vontade”, se lhe apraz. Se temos uma consciência relativa, podemos simplesmente ignorar as discrepâncias sociais e afiar o gume da energia econômica, coisificando tudo, até sentimentos, pois é dessa forma que nos fazemos “fora” desse contexto de pobreza social, espiritual, que convivemos. Em vão.
Lutemos por uma nova economia! Nova visão! Nova humanidade, no sentido fundamental da palavra!
João Paulo
Excelente reflexão.
Estamos juntos nessa busca.
Abraço
Roberto