Quem é você quando ninguém está olhando? Essa é uma pergunta perturbadora que tratei no livro “Rico de Verdade”. Afinal, nem sempre somos os mesmos ou nos comportamos com retidão o tempo todo. Sim, porque podemos agir de maneiras diferentes, quando somos vistos e quando ninguém nos vê. Somos duas pessoas, e (pior!) às vezes diametralmente distintas, dependendo das circunstâncias.
Diante dos outros fazemos as vezes de bem-comportados e politicamente corretos, mas quando estamos sozinhos deixamos extravasar toda a nossa mediocridade. Por isso se diz que as aparências enganam. De fato, nem sempre elas representam a essência. A medida da integridade está justamente em ser quem verdadeiramente somos, independentemente de quem esteja olhando. A integridade não comporta medidas ou circunstâncias. É ou não é.
O fato é que sempre tem alguém olhando. Mesmo se achamos que não há ninguém, sempre existe um observador, nossa própria consciência. É ela que nos acompanha à luz do dia ou no breu da noite. De pé ou deitado. Quando andamos ou nos sentamos. Onde quer que estejamos, lá está ela, a cada passo da travessia. Jamais nos abandona, mesmo que não lhe demos ouvidos. E se manifesta, em todas as circunstâncias! Por isso, é bom fazer as pazes com ela, para que seja uma boa companheira de viagem.
Volto à pergunta, agora, com outra conotação: quem é você quando os outros estão olhando? Fazemos o que fazemos para conquistar reconhecimento e receber elogios ou fazemos o que fazemos por que é o que tem de ser feito? Vale pensar sobre o quanto somos controlados pelas pessoas que nos cercam. Por temer críticas, que ferem nossa suscetibilidade, ou ansiar por agrados, que nos encorajam. Qualquer que seja a nossa expectativa, será sempre passível de frustrações.
Se medirmos o nosso comportamento pela opinião dos outros, seremos sempre controlados por eles e agiremos como marionetes, manipulados pelo crivo externo. O que existe de mais negativo nisso é que não desenvolveremos nosso crivo interno, a expansão da própria consciência.
A formação de nossa personalidade e a construção de nosso caráter depende dessa expansão de consciência e do crivo interno que nos diz como agir, independentemente de quem esteja olhando. Devemos nos submeter à Consciência Superior, a quem somente temos de prestar contas, sem nos perturbarmos com os elogios ou críticas nem ficar à mercê do mundo das aparências e das ilusões.
Como dizia o escritor e poeta Paulo Leminski, “isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”.