Todos temos o nosso momento de virada. Aquele de lagarta para borboleta. A hora de trocar a pele, de dizer sim, de atender o chamado, de partir. Evoluir é isso: um salto quântico na existência.
Algo nos impele para que sejamos quem verdadeiramente somos. Algo nos impulsiona para viver aquilo em que verdadeiramente acreditamos. Algo nos diz, ao pé do ouvido, o que precisamos ser e fazer.
Em cada um de nós existe uma alma que clama, como uma voz que emana do deserto, impelindo para a frente. Mas o corpo sedentário e inerte, diante de tanta aridez, teme a fome, a sede e a penúria da travessia.
É um poderoso medir forças: de um lado, a carência; de outro, o desejo. Diz-se que o ser humano é um eterno insatisfeito. Anseia preencher as suas carências ao invés de satisfazer os seus desejos. Do lado da carência, o medo de perder o que se tem é maior do que a coragem de conquistar o que não se tem. Do lado do desejo, a busca de sentido é mais forte do que a ausência de significado. O desejo de ser, o desejo do Ser. Uma definição psicanalítica de saúde a entende como estar o mais próximo possível do desejo.
Diante desses impasses, as escolhas são determinantes. Há quem as adie, esperando tempos melhores. Mas estes jamais chegam, pois dependem das escolhas, eternamente proteladas.
Mas escolher não é tudo! Há quem faça a escolha, mas não dê o passo. Elege, porém não decide. Assim, ao sedentarismo acrescenta uma saudade: a de ser quem verdadeiramente é. Do ser que ficou distante. Nenhuma saudade dói tanto quanto a saudade de si mesmo. De quem era feliz e não sabia.
Decidir é uma prova de amor, pois amor é decisão e compromisso. Trata-se de assumir o compromisso com o seu desejo e resolver cumpri-lo. Dar o primeiro passo. Há quem espere a visibilidade do trajeto para dar o primeiro passo. Mas não é assim que funciona. Primeiro, dá-se o passo. E aí o caminho se abre, como quem acolhe. É na pegada que o caminho se faz.
O primeiro passo é determinante. O deserto que o antecede vai dar a impressão de que a escolha foi errada. Mas o deserto não passa apenas da prova dos nove. O teste da convicção. Uma provação suprema. O estágio que precede a grande conquista. A vitória sobre os medos. Sem as provações não há progresso. Depois, a glória merecida.
A grande virada é a imensa esperança. O amplo caminho que nos aguarda sentado à beira de nossas vidas. Ali está, para cada um de nós. Mas, como tudo que depende de escolha, não se impõe, não salta sobre nós, como a pedir carona. Requer um ato de vontade. Nosso.
Maktub! É o que nos ensina a sabedoria do Oriente. Faça o que é preciso para dar a virada. É vital!