– Velho Taful, até onde a minha mentalidade vai interferir na definição de meu propósito? – pergunta Aladim.
– Decerto você está se referindo ao modelo mental que, individualmente, possuímos. Mentalidade, ou modelo mental, decorre do sistema de crenças, que funciona como um filtro capaz de moldar nossas percepções. Cada um de nós tem uma percepção sobre o mundo, os outros e nós mesmos.
– … e também sobre o propósito, que é particular – acrescenta Aladim, atento ao pensamento do Velho Taful – e essa percepção pode estar equivocada, assim como o propósito.
– Aladim, você está certo. Daí a importância dos desígnios. Eles vão ajudá-lo a enxergar a realidade conforme determinado ponto de vista, o que vai ajustar a percepção e o próprio sistema de crenças.
– Pode dar um exemplo, Velho Taful?
– É claro. O primeiro desígnio é aquele do criador e da criatura, lembra-se? O ponto de vista do criador é muito diferente do ponto de vista da criatura. Diante de cada ponto de vista, mudam-se os desejos e o propósito.
Enquanto Aladim experimenta mentalmente os dois ângulos de visão, o Velho Taful acrescenta outro exemplo.
– O segundo desígnio é o da falta e o da farta. Também aqui os ângulos de visão são muito diferentes, um examina o mundo e as possibilidades segundo a escassez e, outro, a abundância.
– Compreendi! Pontos de vista distintos, tais como as percepções e as crenças, algo que vai alterar os desejos e o propósito.
– O mesmo raciocínio vale para o terceiro desígnio, o do sujeito e objeto. Há grande diferença entre relacionar-se com o mundo como sujeito e como objeto.
– Não havia me dado conta de que os desígnios ajustam o modelo mental e, assim, modelam os desejos e ajudam na definição do propósito.
– É isso mesmo, Aladim. Mas vale fazer uma correção. Propósito não se define, se descobre. O processo é mais emocional do que racional. Não se prenda apenas aos desígnios, mas sim à história que está por trás dos conceitos. Ela vai ajudá-lo a fazer contato com as suas emoções, a descobrir-se, enquanto busca o seu propósito. Afinal, as crenças mais arraigadas e influentes que possuímos são aquelas sobre nós mesmos.
– Acho que vou reler “O velho e o menino”, conclui Aladim, certo de que determinadas leituras devem ser sempre revisitadas.
O Velho Taful sorri, concordando, enquanto cofia o bigode.