A forma de organizar a produção durante toda a história do Brasil tem causado graves distorções nas relações de trabalho e na formação do perfil do trabalhador brasileiro. Nos tempos do Brasil Colônia os senhores da Casa Grande criaram as “pessoas-objetos” que eram os escravos. Com o início da industrialização, formou-se o operariado proveniente do campo e as “pessoas-objetos” evoluíram para “pessoas-máquinas” com algumas vantagens como receber salário e jornada de trabalho entre dez e doze horas diárias. A “pessoa-máquina” nada mais era do que a parte da máquina que a própria máquina não era capaz de fazer. E só! Lá estava para trabalhar, e não para pensar, muito menos sentir!
As indústrias cresceram muito e junto com esse crescimento surgiu retumbante a burocracia. A burocracia era uma tentativa de padronizar aquilo que tinha dado certo. Para isso, criava organogramas, descrição de cargos e salários, manuais de rotinas e procedimentos e “pessoas-normas”. Ou melhor, as normas vinham antes das pessoas. O controle valia mais do que a tarefa; o registro mais do que o resultado. Em outras palavras, não havia espaço para ser gente!
Ainda que estejamos vivendo a terceira onda também denominada de era da informação e do conhecimento, as “pessoas-objetos”, “pessoas-máquinas” e “pessoas-normas” ainda existem. O modelo tradicional de administração paternalista muito usual nas empresas brasileiras proporcionou uma pequena evolução criando a “pessoa-imatura” que nada mais é do que a manutenção dos perfis anteriores tratados com polidez e bom jeito.
Na empresa-sensível descobriram que o ser humano existe e que é importante. Para atendê-los, criaram os departamentos de recursos humanos. Para isso, incluíram assistências de todos os tipos: médica, alimentícia, transportes e de entretenimento.
Na empresa-sensível tudo é dado, nada é conquistado. A empresa-sensível evoluiu se considerarmos os modelos de trabalho do tempo da escravidão, da industrialização e da burocracia, mas uma crença continua presente: a de que as pessoas não são capazes de fazer as suas escolhas. A empresa-sensível não desenvolve nas pessoas o sentimento de poder. Fornecer sem que haja conquista reforça o comportamento dependente e imaturo. Fortalece o sentimento de impotência. A empresa-sensível não desenvolve a autoestima dos seus funcionários.
Alguns dirigentes de empresas vangloriam-se em dizer que em suas empresas existem uma equipe de verdade: todos são respeitosos uns com os outros, não existem conflitos e todos gostam de trabalhar juntos. Na verdade, trata-se de confrarias e não de equipes. Equipes de verdade conflitam uma vez que seus membros estão comprometidos com os objetivos pactuados e estão dispostos a lutar por eles. Na empresa-sensível passividade é confundida com educação. A ausência de conflitos pode caracterizar uma empresa-sensível mas não caracteriza uma empresa-plena.
Os dirigentes de empresas-sensíveis descobriram que o ser humano existe e é importante, no entanto continuam esquecendo que o interesse pelas pessoas está acima do interesse em qualquer outra coisa. A empresa-sensível está preocupada com a alma da empresa, mas de forma equivocada. Interessar-se pela alma significa antes de tudo um interesse “desinteressado” pelas pessoas. Significa permitir que cresçam, simplesmente porque é bom para elas. Significa abrir espaços para que se livrem de suas dependências e desenvolvam suas autonomias. Mostrar de alguma maneira que o grande desafio não é a independência como muitas pessoas almejam, ma a interdependência. De entender que suas autonomias devem ser preservadas, sem interferir nas autonomias dos outros. De entender que os objetivos individuais não são melhores e mais importantes do que os objetivos organizacionais.
A empresa-sensível deve ser substituída pela empresa-plena onde a alma toma importância e está voltada em transformar seres dependentes e seres autônomos; pessoas anestesiadas em pessoas entusiasmadas; pessoas passivas e obedientes em pessoas ativas e desobedientes.