Nos meus tempos de Fundação Getúlio Vargas tive um professor brilhante, Roberto Venosa, entre outras coisas porque nos fazia aprender por meio da literatura. Líamos vários livros para, a partir deles, compreender as empresas e o mundo dos negócios. Lembro que um me marcou profundamente: “O Deserto dos Tártaros”, do escritor italiano Dino Buzzati.
Nele, o autor relata a chegada de um militar de carreira, Drogo, a uma fortaleza na fronteira de seu país com o território tártaro, em contínuo treinamento para uma guerra que jamais se realiza. Acontece que tudo era espera, naquele lugar árido e seco, isolado do mundo. O jovem gastou a sua carreira mantendo os rituais militares, preparando-se e administrando o medo sempre renovado e alimentado pelo próprio Estado a quem servia.
O tempo passou, a vida passou e até outros oficiais passaram, mas o personagem do livro continuou aguardando um conflito jamais deflagrado, mantendo guarda, ordem unida e outros simbolismos. Em vão.
Há quem espere o messias, o novo governante, a nova economia, Dom Sebastião, ao longo do tempo. Não estranhe ao ver Dom Sebastião nessa lista. Ele foi um rei português, nos idos de 1554. Depois que o monarca morreu, surgiu o sebastianismo, tido como uma crença mística muito difundida em terras lusitanas. Sim, porque os crentes, entre a população, o esperavam regressar como um novo salvador que os levaria a patamares avançados de fartura, glória e apogeu. O mesmo deserto, seja em terras lusitanas, seja na divisa com os tártaros.
A espera por algo do lado de fora é a ausência de algo interior. E a palavra que denomina o que falta, dentro, é esperança.
Espera é viver a partir de fora. Esperança é viver a partir de dentro. Ter uma vida (espera) é diferente de criar uma vida (esperança).
A espera provém das crenças. Positivas ou negativas, são sempre falíveis e limitantes. A esperança é um valor. E, para compreendê-lo bem, vamos recorrer ao Velho Taful, um dos personagens principais do meu livro “O velho e o menino“: “esperança não é uma certeza de que as coisas vão dar certo, mas a convicção de que elas têm sentido”.
Por ela, por si e pelos outros, vale a pena caminhar. Adiante, então!
Texto espetacular.
Escreveu pouco e falou muito.
Faço votos de que outros textos venham com a mesma profundidade/ensinamento.
Vilmar
Obrigado pelas palavras.
Abraço
Este texto me veio num bom momento!
Obrigada!