Diderot, filósofo e escritor francês e um dos notáveis do Iluminismo, escreveu: “Havia um homem natural. Foi introduzido no âmago desse homem um homem artificial e ele desencadeou no interior da caverna uma guerra civil que se prolongará por toda a vida”.
Diderot jamais conseguiria imaginar que, três séculos depois, ele se depararia com a IA (a chamada inteligência artificial), que poderá tornar o homem ainda mais artificial.
Contemporâneos dela, nós também não conseguimos imaginar seus desdobramentos. Será que vai acentuar ainda mais a guerra civil dentro da caverna? Ou será que ajudará a nos libertar de tamanho conflito?
Alguns apregoam que viveremos uma nova revolução à semelhança da industrial, aquela que, por meio dos capitais intelectual e tecnológico, nos trouxe até aqui, com todos os seus luxos e mazelas.
Outro escritor, o alemão Bertolt Brecht, disse:
“Nós vos pedimos com insistência: nunca digam – Isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão, em que corre o sangue, em que o arbitrário tem força de lei, em que a humanidade se desumaniza…
Não diga nunca: isso é natural! A fim de que nada passe por ser imutável. ”
Com todos os avanços tecnológicos, a economia normal deixou como herança três crises que assolam a humanidade: a relacional, em que a polarização cada vez mais acentuada nos mantém isolados e distantes mesmo dentro da mesma caverna; a de propósito, dada a dificuldade de reconhecer os próprios desejos, inebriada que está diante de buscar a satisfação das carências; a espiritual, em que o sentido e o significado não encontram seu lugar.
Compreendo que está em nossas mãos e em nossos corações orientar a IA para o bem da humanidade. Fruto da revolução informacional – a que se seguiu depois da industrial – é uma fronteira entre essas duas e uma outra urgente: a revolução da vida. Esta, por sua vez, forja uma nova economia: a economia ao natural.
Cito, agora, um suíço, o famoso psiquiatra e escritor Carl Jung:
“O essencial é a vida do indivíduo. Só ela faz história, só ela promove grandes transformações, só ela cria o futuro. Todo o futuro, toda a história do mundo, brota da soma gigantesca dessas fontes ocultas que existem no interior dos indivíduos. Mesmo em nossa vida mais privada e subjetiva não somos apenas testemunhas passivas ou vítimas de nossa era, mas também seus construtores. Nós fazemos nossa própria época”.
Se os capitais intelectual e tecnológico fomentaram a chegada da IA, fontes ocultas deverão entrar em cena com ênfase e precisão, traduzidas em dois outros capitais: o relacional e o espiritual.
Do capital espiritual vem o resgate da honradez, cujas raízes são o DNA espiritual e as virtudes humanas. Quando reconhecemos a nossa honradez, podemos manifestá-la com elegância em nossas relações.
Se a honradez é a raiz da árvore, a elegância é a sua copa. Nada como a imagem de uma árvore para retornarmos ao natural, de onde nunca devemos nos desligar.
Sensacional o texto! Grande Mestre! Sempre a frente! Grande Abraço!
Belo texto Roberto. Sempre me fazendo refletir sobre a Vida.
e acredito que a principal crise é a Espiritual, que é a base de tudo.
Forte abraço