Ao questionar plateias compostas de líderes e empresários, sobre vagas de empregos em suas empresas, recebo em resposta o silêncio. Mas quando pergunto se há muito trabalho em suas empresas e necessidade de quem o realize, todos se manifestam positivamente.
Curioso! Não têm empregos, mas tem trabalho. No mínimo, um paradoxo. O empregador precisa do empregado, assim como o empregado precisa do empregador. Ambos querem, mas ambos se evitam.
O que impede pessoas com necessidades comuns de se conectarem umas às outras?
Um processo de seleção é um cortejo. O candidato ao emprego tenta impressionar o empregador, dando demonstração dos seus dotes e talentos, experiências e potenciais. Ora! Aí está um grande equívoco. Quase sempre esse relacionamento permanece no trivial, ou, quando muito, esbarra no fundamental, mas nunca avança ao essencial.
O trivial refere-se às necessidades. Essas são prementes. O empregador quase sempre pensa em preencher a vaga surpreendido pela perda de algum profissional, em geral ocasionada por esses mesmos procedimentos equivocados de seleção. O selecionador pensa na necessidade: colocar alguém o mais rápido possível naquele buraco aberto. O candidato, por sua vez, às vezes pela hora da morte, pensa na sua necessidade imediata.
Mas existem “casamentos” mais criteriosos. Aqueles que não se restringem às necessidades prementes. Saem do trivial, avançam para o fundamental. E o fundamental está relacionado aos interesses.
Quando se suspende a ansiedade causada pelas necessidades, é possível fazer uma avaliação racional e emocional dos interesses de ambas as partes. E ver o quanto convergem ou divergem. Ajustam-se os interesses convergentes; negociam-se os divergentes.
Recebo currículos todas as semanas. Examino alguns. Todos declaram o que os candidatos fizeram. Descrevem suas experiências e habilidades. Lá está o indivíduo racional-econômico, acentuando mais seus feitos passados do que suas intenções futuras.
O empregador, por sua vez, também comete o mesmo equívoco. Oferece a vaga para um determinado cargo, descrito em funções e atribuições.
A relação está, desde o seu início, fadada ao fracasso, devido a seu caráter utilitário. Com alguma sorte, poderá resultar em um vínculo frouxo e passageiro, aquele tipo medíocre de relação oportunista, de quem extrai mais de quem, desperdiçando toda a riqueza mútua caso houvesse um outro tipo de intenção de ambas as partes.
Como transformar o indivíduo racional-econômico que se oferece para trabalhar no indivíduo integral? Como transformar a empresa econômica que oferece o emprego numa empresa progressista?
É uma pena que o candidato não declare no currículo os seus valores, suas ideias, seus pensamentos e sentimentos, quem é e o que busca, sua visão de mundo e de futuro. É claro que essas informações essenciais só interessariam para um empregador que também sabe quem é e o que busca, e que possui uma visão de futuro clara do que deseja construir como organização.
As relações de trabalho necessitam de zelo e cuidado. Infelizmente, na maior parte das vezes, prevalecem apenas duas conversas: na ocasião da contratação, quando expectativas e promessas são compartilhadas; e no desligamento, quando os sonhos desfeitos são arrematados numa conversa crua de desenlace marcado por sisudez e frustração.
Expectativas devem ser compartilhadas e os interesses renegociados, de quando em quando. É importante quando o desejo de um é reconhecido pelo desejo do outro, de maneira que haja uma saudável e equilibrada nutrição.
São essas realizações que constroem relações férteis e vencedoras, humanas e amorosas. Sem complicações. Em verdade, estes são os legítimos casamentos.