Lembro-me do tempo em que ajudava as empresas a formarem seus preços de vendas. O custo da matéria-prima era calculado sem os impostos mas a polêmica era grande sobre qual o seu real valor: o de aquisição ou reposição? Afinal, a inflação batia 40% ao mês e era uma tarefa árdua formar preços de venda.
Depois, calculava-se o custo da mão-de-obra. Outra polêmica: estimar o custo dos encargos sociais e trabalhistas. A discussão variava de 50% a 200% sobre o montante da folha de pagamentos. As controvérsias eram muitas e tudo isso para saber o custo hora/homem de cada processo fabril até chegar ao produto final.
As polêmicas não paravam por aí. Havia ainda o grande impasse do cálculo do custo da depreciação das máquinas e equipamentos. Como saber a vida útil do ativo imobilizado?
Pois bem! Toda essa numerologia se traduzia em um mark-up, ou seja, um multiplicador aplicado sobre os custos que resultava no preço de venda, subtraído depois pelo mercado na forma de descontos e abatimentos. As empresas descobriam aos poucos e com algum sofrimento que o mercado é que ditava o verdadeiro mark-up. De nada adiantava as grandes elucubrações matemáticas e sistemas de custeios como o famigerado RKW. A soberania tinha nome: mercado!
O tempo passou, a inflação diminuiu de tamanho, mas ainda é espantoso o número de empresas que encalhou nessa Era Industrial. A descrição acima é típica de uma indústria, mas a mentalidade vale também para empresas comerciais e de serviços. Ainda encontramos empresas debatendo-se para calcular o custo hora/homem ou hora/máquina. Tudo isso para morrer na praia, ou melhor, para acabar na concessão de descontos e abatimentos que é a maneira que o mercado encontra para dizer que o produto (ou serviço) não é do seu agrado.
Melhor seria utilizar todo esse tempo e esforço para um outro tipo de ocupação, qual seja, compreender as reais necessidades do cliente e oferecer para ele uma oferta formada por um mix de produtos e serviços que resolva o seu problema. Mas para isso é preciso compreender com profundidade qual é o seu problema. E isso sugere uma mudança no jeito de trabalhar e de ocupar a agenda. Implica substituir planilhas eletrônicas por conversação; aritmética por relacionamento; linha de montagem por imaginação e criatividade; custo por resultado; expedição por negociação. E, principalmente, mudar o modelo mental pois o grande entrave está na consciência dos dirigentes dessas empresas.
Bem-vindo à Era do Conhecimento. Divirta-se!
Boa tarde Roberto.
Meus custos serão meus custos independentes do preço de venda no mercado. Em outras palavras, o mercado pode definir o preço de venda, mas não os meus custos.
Penso que calcular HT, HM e GGF realmente sejam algo antiquado, mas ainda sim é um método utilizado e confiável, afinal, através deste as empresas com grande portfólio de produtos, consegue mensurar os custos individuais dos produtos, ou seja, tarifa HH x tempo dedicado de pessoas e tarifa HM x tempo máquina.
Esse é um assunto do meu interesse e, gostaria de trocar mais informações. Roberto, em seu livro fala mais sobre este assunto?
Juliano, boa tarde
Sem dúvida nenhuma, embora o mercado decida os preços, é preciso fazer a contabilidade de custos.
Todos os produtos devem ter a sua “ficha técnica” que apropria os custos conforme os critérios mais corretos.
No nosso processo de gestão, a Metanoia, recomendamos o custeio direto e aplicamos os conceitos de margem de contribuição e margem de cobertura, por produtos e por clientes. Não habituamos fazer o rateio dos custos fixos.
Embora tenha lidado muito com isso na década de 80, época de hiperinflação, acabei não deixando documentado.
Abraço,
Roberto