Nada mais temível para os funcionários de uma empresa-desnorteada do que a volta de viagem do seu dirigente principal. Nada mais será como antes: produtos são acrescentados ou retirados do portfólio, novos mercados são implementados e outros desestimulados, trocam-se pessoas, contrata-se novos heróis, abre filial, fecha filial.
O dirigente da empresa-desnorteada tem a maestria de examinar cenários e tendências e identificar oportunidades, arquitetar uma brilhante estratégia para saber que no final nada acontecerá.
Na verdade, na empresa-desnorteada pouco se realiza. Existe muita movimentação mas muito pouca ação. Embora o sistema de informação sobre o mercado esteja funcionando a contento, o sistema interno de decisão funciona de maneira estabanada. Em muitas situações, quando seus dirigentes são por demais arrojados, a empresa-desnorteada cria rombos enormes de caixa por não conseguir compatibilizar risco com retorno.
Para os dirigentes da empresa-desnorteada o mais importante é conquistar mercado. Seus principais objetivos resumem-se em conquistar x% do mercado, crescer em x% o faturamento.
Na ânsia de crescer o faturamento, muitas vezes a empresa-desnorteada acaba perdendo o foco do seu negócio. A definição de negócio de uma empresa é formada pelo conjunto de valores das pessoas da empresa compatibilizado pelas tendências ambientais e forças de mercado. A empresa-desnorteada é muito preocupada com a segunda parte, as tendências ambientais, mas pouco preocupada com a primeira parte, os valores das pessoas da empresa.
Por conta de ficar só no plano do que é visível e de fundamentação lógica, a empresa-desnorteada nem sempre é bem sucedida. E seus dirigentes quase sempre não conseguem perceber os verdadeiros motivos que impediram o sucesso. Isso porque seus olhos estão quase sempre dirigidos às causas visíveis. Sendo assim, os problemas se perpetuam já que as soluções recomendadas e implementadas atuam sempre sobre as mesmas causas visíveis.
Na empresa-desnorteada os problemas não visíveis não são tratados e eles explicam e alimentam a existência de problemas transformando-os em crônicos.
O problema da empresa-desnorteada é que ela é muito mente, pouco corpo e alma. Isso significa que embora exerça bem seu potencial empreendedor, os dirigentes da empresa-desnorteada pouco se interessam pelas pessoas que fazem o trabalho. Aliás, para os dirigentes da empresa-desnorteada as pessoas são meros recursos para que seus sonhos sejam realizados. As pessoas que não concordarem com os sonhos são colocadas na “geladeira”. Por conta de não buscar o comprometimento das pessoas, a empresa-desnorteada mais se agita do que muda.
Desdenhando as pessoas, a empresa-desnorteada deixa de perceber que muitos dos problemas que impedem o sucesso estão relacionados com a moral da equipe, com a qualidade dos relacionamentos das pessoas, dos conflitos não tratados e dos rancores camuflados.
Nada de errado com a postura do dirigente da empresa-desnorteada de perceber tendências e buscar inovações para aumentar a competitividade. Ocorre que essa postura é apenas uma parte do sucesso. É necessário completar a tríade formada pelo corpo, pela mente e pela alma. Como diz Henry David Thoreau “se já construístes castelos no ar não te envergonhes deles: estão onde deviam estar. Agora constrói seus alicerces.” Nada de errado com os sonhos e até devaneios, mas é necessário fazê-los acontecer. A mente precisa do corpo. Nenhuma ideia progredirá se não for sustentada por uma forte estrutura. A mente precisa também da alma. Nenhuma ideia progredirá se não contar com o apoio de pessoas comprometidas e motivadas com a ideia. Aí sim a chance de sucesso é completa: quando a empresa-desnorteada se transforma em empresa-plena.
Muito interessante.