Uma busca muito humana

A manchete é dura e verdadeira: “Informalidade atrai brasileiro e agrava falta de mão de obra qualificada” (Estadão 20/04/2025).

Mas será mesmo que o brasileiro foge do emprego formal apenas pelo atrativo da informalidade ou falta de qualificação? Ou seria expulso por outra escassez, mais profunda e silenciosa, a falta de alma nas empresas?

Temos assistido, nos últimos tempos, a migração de talentos não apenas da carteira assinada, mas de tudo o que é engessado, padronizado, mecânico. O brasileiro – ser naturalmente criativo, afetivo e relacional – vai se afastando das empresas que sufocam sua humanidade. E vai encontrando refúgio no informal, no autônomo, no provisório, no precário. Porque, ao menos ali, ainda lhe resta a liberdade de ser quem é.

O que espanta a tal “mão de obra” não é só o salário baixo ou a jornada exaustiva. É o ambiente desalmado. É a gestão que opera como máquina, a liderança que não inspira, os propósitos que não tocam. Empresas que tratam gente como recurso, não como fonte. Que celebram metas e ignoram significados.

Uma empresa sem alma é uma fábrica de desistências. Desistência da excelência. Desistência da alegria. Desistência de permanecer.

Não falta gente qualificada. Falta convocação nobre. Falta espaço para o talento florescer e o propósito contribuir. Falta ambiente onde se trabalhe com sentido, a tarefa se transforme em missão e a rotina seja um rito de realização.

Enquanto empresas insistirem em contratar “mão de obra” sem olhar nos olhos de seus colaboradores ou candidatos a uma vaga, o informal continuará sendo o refúgio de quem ainda deseja ser inteiro. Não é fuga. É busca.

Buscar-se. Encontrar-se. Re-humanizar-se.

O desafio, portanto, não é só capacitar pessoas. É reencantar empresas. É fazer das organizações lugares de pertencimento, de desenvolvimento e de beleza. É devolver-lhes a alma.

Quando uma empresa encontra sua alma, deixa de ser apenas um lugar de trabalho e passa a ser um lugar de vida. Uma busca, portanto, muito humana.

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