Empresa: vocação econômica. (Parte 1 de 2)

Empresas são agentes econômicos. Existem para promover o desenvolvimento econômico, produzir riquezas, aumentar a abastança e o bem estar do mundo, combater a miséria e as mazelas sociais.

Empresas são construtos humanos. Um arranjo moderno de agrupamento de pessoas. Existiam (e ainda existem) tribos, clãs, condados, ducados, reinados, capitanias, associações, agremiações e tantas outras formas de agrupar pessoas. Nenhuma delas, entretanto, tão moderna como a empresa.

Entre essas duas vocações, paira um impasse: o desenvolvimento econômico versus o desenvolvimento humano. Essa dualidade não é bem resolvida por grande parte das empresas. E, enquanto perdurar, como enigma a ser decifrado na cabeça de quem lidera essa recente micro sociedade, esses agentes econômicos e humanos não conseguirão produzir a melhor riqueza de que são capazes. E para a qual, paradoxalmente, existem.

Um modelo falido

 

Há pouco mais de um século, a ciência da administração moldou a empresa da maneira como ela hoje se apresenta e a definiu como uma organização. O arranjo de trabalho foi feito com o propósito de colocar bens e serviços no mercado a partir do máximo de produtividade. A aposta é que a geração de riqueza se dá por meio de uma boa gerência da microeconomia, o que se reflete nas estatísticas macroeconômicas que medem o desempenho econômico de um país ou nação, desde que haja uma boa gestão da economia nacional.

Assim, e pelo que se acredita, a opulência econômica promoveria o desenvolvimento social, por meio da geração de emprego, renda e consumo. Essa é a crença, a bela teoria, mas o que existe de contraditório, na prática, é que o primeiro a ser descartado é o ser humano, quando há um arrefecimento econômico.  O que foi feito para promover o econômico e o social acaba por resultar exatamente no contrário.

Outra crença é a de que o desenvolvimento econômico promoveria o social por meio do pagamento de impostos. O compromisso da promoção social dependeria, pois, do Estado arrecadador. Mas, da mesma forma, assim que o econômico sofre uma retração, o humano é o primeiro a ser prejudicado pela diminuição do montante arrecadado e alocação desses recursos.

Essas crenças compõem um argumento razoável e lógico, mas a prática não tem funcionado conforme o discurso. E se assemelha aos pais que delegam às escolas a educação de seus filhos. Ou seja: costuma não dar certo.

O ser humano em pedaços

Por conta da empresa assumir o econômico e o Estado, o social, o projeto humano ficou à deriva, nem lá e nem cá. Escolas e religiões tentam preencher as lacunas que empresas e Estado são incapazes de solucionar. Fragmentado, o ser humano é tratado – teoricamente – por partes: o ser econômico, pela empresa; o ser social, pelo Estado; o ser aprendiz, pela escola; o ser psicológico, por algum tipo de terapia e o espiritual, pela religião. Do ponto de vista individual, imagine-se de que tremenda acrobacia se trata, enfrentar o desafio de manter todos esses pratos girando no ar, simultaneamente. Sob o ponto de vista do entendimento, um quebra-cabeça incoerente e inconsistente, que só faz aumentar a entropia e o retrocesso, tanto individual como coletivamente.

Como solucionar este quebra-cabeça é tema para o próximo artigo ‘Empresa: vocação humana’. Acompanhe.

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