Escolha a sua incumbência

O prazer engana. Transveste-se de felicidade e alegria, mas é de outra natureza.

Nada contra o prazer, porém. Quem não gosta do couvert antes do prato principal?  Isso é o que ele, de fato, é: o couvert, com os petiscos que antecedem a verdadeira refeição.

Por ser agradável, delicioso, atrativo, para quem degusta é fácil cair na sedução do prazer e ficar por aí, sem nunca acessar o prato substancial.

Por sua força arrebatadora, estimular o prazer sempre foi um dos botões acionados pelo marketing nas promessas feitas sobre os produtos que vendem. Almas carentes são iscas fáceis a esses apelos. Assim funcionam muitos mercados em que o consumidor não se diferencia tanto de um adicto.

O dinheiro sempre andou atrás do prazer e o prazer atrás do dinheiro, em uma relação simbiótica e dependente. Como se não bastassem os vários tipos de drogas, lícitas ou ilícitas, surgem com força voraz os jogos – que sempre existiram -, mas agora, com o aparato da internet, constituem um verdadeiro cassino ambulante.

A tecnologia a tudo renova, inclusive a linguagem. Betar é o novo verbo conjugado por quem desenvolveu uma dependência patológica, fisgado na teia das apostas online, também conhecida como bets ou jogo do Tigrinho.

O prazer se alimenta de estímulos e quem tem um smartphone em mãos leva consigo uma fábrica de estímulos que parte da aparentemente inofensiva internet, com suas redes sociais até o caça-níqueis.

Não há restrição à idade e os jovens são os mais vulneráveis, bem treinados pelos games online.  A geração atual, adoecida pela ansiedade, tem mais um obstáculo para transpor.

Está mais do que na hora de atrair a atenção dos jovens para outros desafios que remetam ao prato principal, sem que precisem abrir mão do couvert. Os novos desafios dependem de acionar outros botões, tais como os da curiosidade, da aprendizagem e da criatividade, apenas para citar alguns muito eficazes.

E que possam também, para além do mero e prazeroso entretenimento, dedicar-se a algo ou a alguém além de si, abrindo-se a um mundo que necessita de seus dons e talentos.

Existe saída quando, para além do provisório bem-estar proporcionado pela dupla prazer e felicidade, se incita um propósito e um código de nobreza capazes de acessar a verdadeira alegria de viver.

É questão de cidadania, pois os custos das doenças patológicas recaem sobre a saúde pública, mas também de humanidade: precisamos deixar como herança uma geração mais saudável.

Somos todos coniventes ou responsáveis. Escolha a sua incumbência. Acredite, fará toda a diferença, para o mal ou o bem.

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