Dos autores que conheço, o renomado psicólogo humanista Abraham H. Maslow é o mais incompreendido. Por causa do velho hábito que as pessoas têm de tirar conclusões examinando ligeiramente a casca sem se aprofundar no âmago da fruta, a propalada teoria das motivações humanas consegue o efeito inverso do que o autor preconizava nos idos da década de 50 do século passado. E pior: o que era para ser um bafejo de esperança transformou-se em uma desventura determinista.
Tudo começa na conhecida pirâmide das necessidades e das motivações humanas. Para Maslow, tais necessidades são a fonte da motivação. Acoplada equivocadamente ao modelo hierárquico de empresas e sociedade, a pirâmide distorceu as intenções do autor.
Vale lembrar da classificação das necessidades traduzida em uma forma geométrica, daí ser conhecida também como Pirâmide de Maslow:
Na base da pirâmide estão as necessidades básicas, fisiológicas e biológicas, como cuidar do corpo e da higiene, da alimentação, do repouso, do sexo e da procriação.
Em seguida, no sentido ascendente, as necessidades de segurança, como a garantia de moradia, de trabalho, de saúde, tanto próprias como da família.
Entre a base e o topo, as necessidades afetivas, incluindo o pertencimento e fazer parte de um grupo de convívio e relacionamento.
Segue com as necessidades de valorização, reconhecimento e prestígio.
No topo, as necessidades de autorrealização, ou seja, de ser realmente o que se é potencialmente.
Ironia do destino, a indignação que motivava os estudos e as experiências de Maslow – por que tão poucas pessoas atingem o estágio da autorrealização? – transformou-se em uma maldição, exatamente contrária ao desejo do autor.
É fato que a sua teoria diz que enquanto o indivíduo não satisfizer suficientemente as necessidades de determinado estágio, ali ele ficará retido e não se tornará consciente dos estágios evolutivos. Ao suprimir a palavra “suficientemente”, o texto perde o sentido do contexto, ou seja, suficientemente não é o mesmo que “totalmente” e difere de indivíduo para indivíduo. Alguns saciam-se com meio prato de comida, enquanto outros precisam repetir o alimento pela segunda ou terceira vez, apenas como exemplo. Vale para as necessidades fisiológicas, mas também para as demais. Portanto, mesmo que as básicas não estejam devidamente supridas, as pessoas estão também orientadas para motivações superiores.
A teoria, mais conhecida do que compreendida, validou o que o autor menos queria, ou seja, a perpetuação das classes: para as inferiores, a satisfação das necessidades básicas, biológicas e de segurança; para as medianas, a satisfação das necessidades afetivas, de valorização, prestígio e reconhecimento; a autorrealização seria, então, privilégio das mais favorecidas.
Compreende-se a falácia da teoria de Maslow quando se constata que as classes mais favorecidas também não alcançaram o patamar da autorrealização. Tal qual uma sina, vivem a mesma moeda da escassez: de um lado a falta, do outro o excesso. A meta da autorrealização tornou-se distante para ambos que sucumbem nas suas carências.
A escassez que nos prende ao ciclo da sobrevivência impede que vivamos a nossa real nobreza. Ser quem verdadeiramente somos e agir como tal é o que Maslow denominou de autorrealização e que também pode ser denominada de real nobreza. É aquela que os ventos e as tempestades não levam e as traças não corroem. É o maior patrimônio que podemos ter e representa a grandeza de uma vida vivida com V maiúsculo. E o mais importante: é justa, igualitária, oportuna e acessível a todas as classes sociais e caixinhas de organogramas.
Instituímos o Código de Nobreza como metodologia para que as gentes possam evoluir, ou ao menos imaginar e experimentar o estágio supremo da motivação humana, o de ser o que se é potencialmente. A nobreza é a natural motivação.
Distante de qualquer maldição, a real nobreza é o que alimenta a esperança de sermos, um dia, uma família humana bem-sucedida. Amém.