Todos estamos muito frustrados com a derrota sofrida pela Seleção Brasileira e a eliminação da Copa 2022. Afinal, estávamos indo muito bem – não obstante a derrota para Camarões – e o Brasil jogou melhor do que a Croácia na maior parte do tempo. Mais que isso: o jogo parecia decidido com o gol do Neymar. Tudo o que precisávamos fazer era ganhar tempo para assegurar a vitória evitando a decisão por pênaltis. Em surpreendente reviravolta, a Croácia empatou e o pior aconteceu: fomos para a inevitável roleta russa.
Pensei em como podemos aproveitar o amargo gosto da derrota para examinar porque os erros acontecem e como daria para evitá-los. Afinal, também ocorrem com frequência em nossa vida e nos negócios.
Antes, considere o viés de retrospectiva, essa atitude comum que todos nós adotamos – depois do fato ocorrido – destacando o óbvio. Veja o que os comentaristas profissionais e não profissionais estão dizendo. “Tite errou em tirar Richarlison e Vini.” “Não poderia ser um garoto de 21 anos, a bater, pela primeira vez, uma penalidade com a camisa da Seleção Brasileira.” “Neymar deveria ter batido o primeiro pênalti.” São muitas as avaliações, algumas bastante agressivas, a maioria culpando o decisor, ou seja, o técnico Tite.
O viés de retrospectiva vem nos mostrar que tudo era mais simples e que nossos erros são bobos, depois de feitos. É fácil reconhecer os erros depois, mas o que levou a eles? Onde foi que o Brasil errou no jogo contra a Croácia? Será que, vendo agora, todos os que opinam e criticam são mais preparados do que o Tite, que lá estava completamente empenhado na situação?
Tite é um técnico inteligente e experiente. Trouxe alegres vitórias para o meu Corinthians. Portanto, apenas lançar a culpa nele não é suficiente para aprender onde erramos. Não penso que assim seremos capazes de desenvolver alguma imunidade contra as bobeadas, mancadas, deslizes e vaciladas que acontecem com uma frequência maior do que gostaríamos, mas acredito que todos gostaríamos de diminuir nossa taxa de erros e aumentar o grau de aprendizado.
O decisor não está no controle de tudo. Desconhecemos os trâmites nos bastidores que tanto influenciam tanto a escalação do time quanto as negociações com a Fifa. Assim também é a nossa vida. Nunca estamos no controle completo das situações. Devemos cuidar do texto (o que está no nosso controle) sem perder de vista o contexto (o que não está no nosso controle).
Se não temos controle sobre o contexto, vamos observar um pouco mais o texto. Exercemos controle – ou deveríamos exercer – sobre os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Muitas das tendências e propensões ao erro estão de tal maneira enraizadas em nossa memória e encravadas em nossas crenças, costumes e cultura que é difícil desconsiderá-las em nossas decisões.
Outras, mais simples e sutis, influenciam a qualidade das nossas decisões. Leve-as a sério, porque acabam sendo mais relevantes do que se imagina:
– Será que Tite estava devidamente descansado? Pessoas cansadas e privadas do sono estão propensas a fazer apostas arriscadas e inconsequentes.
– Será que Tite estava centrado? O equilíbrio ajuda no pensamento organizado e na flexibilidade necessária para a solução de problemas.
– Será que Tite estava mais otimista do que devia? Uma coisa que ajuda é ser menos otimista na hora de tomar decisões. Ser autoconfiante é considerado algo positivo, mas em excesso é uma das principais causas das resoluções equivocadas.
Muitos erros identificados depois pelo viés de retrospectiva são óbvios e não necessitam de nenhuma análise mais científica. Vale tanto para os acidentes aéreos, automobilísticos e de trabalho, como para as derrotas na copa do mundo.
O que precisamos é de muita lucidez e de discernimento para não repeti-los.
Parabéns mestre Tranjan, a facilidade com que estes ENTENDIDOS em futebol, falam depois do resultado, sejam bons ou ruins, é desalentadora.
A sua análise, por outro lado, por ser mais profunda e coerente, me fala que não sou o único a assim pensar, apesar dessa avalanche destes donos da verdade.