É possível que você se incomode com quem pensa diferente e, mesmo usando seus melhores argumentos, não consiga fazer com que o outro mude de opinião. Mas, pare para pensar: quando foi a última vez que você concordou com uma opinião oposta à sua?
Aposto que terá dificuldade de se lembrar. Menos ainda das alegações alheias mostrando o que afirmavam ser seu engano, de maneira a fazer você mudar de ideia, supondo que isso tenha acontecido.
Por outro lado, não é difícil lembrar das vezes em que estava de acordo com o seu interlocutor – ambos, portanto, certos.
Rigidez cognitiva é o termo que se usa para definir quem se mantém firme em seu ponto de vista – algo que popularmente é conhecido e rotulado como teimosia – que nem se esforça em exercitar outros ângulos de visão.
Memória seletiva é o termo usado para lembrar o que é concernente ao próprio ponto de vista, sem que haja algum tipo de conflito.
Considerando as duas definições – a rigidez cognitiva, que impede a mudança de olhar, e a lembrança seletiva, que reforça ainda mais o olhar viciado -, podemos concluir que estamos fadados a morrer pensando sempre as mesmas coisas e do mesmo jeito. A menos que…
Tanto desacredito no determinismo como acredito na educação como processo de tomada de consciência, alargamento do campo de visão, mudança de percepção e de modelo mental. Acredito na metanoia como processo de educação que vai além do intelectual, avançando para ambas as aprendizagens, a emocional e a espiritual.
A vítima da rigidez cognitiva está tolhida em sua evolução. Sim, porque não é a pessoa que tem a crença limitadora. É a crença limitadora que tem a pessoa. Quando isso acontece, a teimosia tende ao fanatismo e fanática é quem não muda de opinião nem de assunto.
Manter a rigidez cognitiva e encher-se de certezas é o caminho mais sólido para não crescer como ser humano. Alimentar a memória seletiva é aprofundar ainda mais os sulcos das velhas crenças e histórias que contamos a nós mesmos, tornando-as marcadas em nosso caráter. Por sinal, significa caracteres ou marcas tatuadas na personalidade.
A boa notícia é que somos uma promessa de evolução e nada está determinado. Fomos feitos para crescer e progredir. Somos dotados das faculdades e inteligências que fazem com que isso aconteça. No lugar da rigidez cognitiva e da memória seletiva, invista no discernimento, a capacidade que todos nós temos de experimentar outros ângulos de visão e de compreender a realidade, sem tornar-se refém das miragens, versões dos fatos, crenças e fantasias.
Com discernimento, somos capazes de ampliar tanto o mundo interno como o externo, buscando uma conexão sinérgica entre ambos. É algo que vai proporcionar para cada um de nós uma vida mais interessante, leve e límpida, sem os ciscos que tanto turvam a qualidade do olhar. Um grato presente que somos capazes de nos oferecer, garantindo a liberdade que tanto merecemos!
Excelente como sempre amigo. Talvez, dentro do mesmo tema e expandindo um pouco mais o olhar, valha falar também sobre o processo de “imunização cognitiva”, que é, ao meu ver, o grande mal de nossa sociedade atual.