O título do bate-papo sugerido a mim e à Monja Coen na Bienal Internacional do Livro de São Paulo foi esse. A abordagem da querida monja é natural para quem vive a sabedoria do Zen Budismo, na tradição Soto Shu, originária do Japão. Da minha parte, falei da vida profissional que resvala para a pessoal, nos desafios diários dos empregos, carreiras, profissões e empreendimentos, principalmente no Brasil, considerado o segundo país mais ansioso do mundo. Em nossa prosa, o aqui e o acolá se entrelaçaram, misturando a espiritualidade com a materialidade.
Lembrei que, no trabalho, o estresse faz parte do pacote. Quem quiser evitá-lo, terá de permanecer na zona de conforto, o que não é recomendável. Ao sair dela, impulsionado pelos desafios, o desconforto é inevitável, o que implica estresse. Portanto, o estresse faz parte da história, quando adentramos as instigantes zonas da expansão e da aprendizagem. Crescer e aprender dói, em especial quando envolve questões emocionais e espirituais, não apenas intelectuais.
O estresse se apresenta, sempre que expandimos nossas competências. Advindo do crescimento e do aprendizado é tanto saudável como desejável. Há, no entanto, gradações do inevitável e as mais fortes podem ser desnecessárias, então, vale atenuá-las, ao menos.
Tomamos como exemplo as fatídicas metas a alcançar e que não dão sossego nas empresas de forte teor econômico da velha economia. Precisam ser perseguidas dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano. Incansavelmente. Se cumpridas, outras – mais difíceis – virão em seguida. Se não alcançadas, é preciso se defrontar com as testas franzidas dos superiores ou mesmo com retaliações. O seu efeito mais perverso ao longo do tempo é provocar acídia em quem não enxerga sentido e significado nessa maratona infindável.
Significado é a palavra que faz o elo entre a espiritualidade e a materialidade, mas que não se apresenta nas metas numéricas. Um trabalho com significado jamais vai entregar os seus segredos a uma fita métrica. Significado advém de um propósito, que vai além da mera riqueza, aquela condicionada apenas à dimensão econômica.
Metas e números são necessários para que as balizas financeiras sejam feitas, mas passar a vida fazendo balizas é altamente desgastante. Há de se ter um desígnio para a viagem e que esse desígnio seja fonte de inspiração e esperança. Propósito é o nome que se dá a esse desígnio.
O propósito bem definido atenua a voracidade resultante das metas infindas, dando ao trabalho uma outra razão para sua existência. Serve como antídoto natural ao estresse, transformando os ufa! contínuos em boas pitadas de oba! incluindo o atóxico bom humor e a sublime alegria. Ao propósito, portanto, com seus mágicos e fundamentais temperos!