Tem a história daqueles dois presidiários que tentavam a fuga. Teriam de ultrapassar quatro cancelas, mas não tinham essa informação. Depois da terceira e já exaustos, um fala para o outro:
– Acho melhor retornarmos. Estou sem forças para prosseguir.
E assim fizeram.
Às vezes o que falta é um passo a mais. Só isso, para aceitar o cansaço, desafiar os próprios limites, reconhecer a impotência, considerar a inteligência e o marasmo externo, que é uma projeção do marasmo interno. Então, a desistência não é a resposta, mas sim o passo a mais para além de todas as forças e da exaustão. Aquele derradeiro que nos coloca para fora da caverna e ao encontro da luz do sol.
Por vezes até avançamos, mas sempre dentro do mesmo cercadinho. Esse avanço é uma ilusão. O que estamos fazendo, a esmo, é dar uma volta no mesmo lugar. A famosa guinada de 360 graus que nos leva exatamente à estaca zero. Muita agitação, mas pouca ação de fato.
O passo a mais é coisa de peregrino, ao contrário do que acontece com o turista, nunca se afastando do roteiro. Se a vida é a viagem, a relação de cada um deles com ela é muito diferente. Para o primeiro, a vida tem o sentido de busca; para o segundo, de fuga.
Quando se foge da incerteza, da aleatoriedade, do imprevisível, do incontrolável, retorna-se ao mesmo ponto de partida, como os hebreus no deserto. Quando se deram conta, quarenta anos haviam se passado.
A viagem do turista com certeza é mais confortável do que a do peregrino. Mas também é por essa razão que quase sempre o turista retorna do mesmo tamanho e com o mesmo vazio, apenas com a mala e a câmera abarrotadas.
Quando se busca a aventura e o risco, abrimos espaço para as potencialidades até então adormecidas, para o fortalecimento das competências subutilizadas. A superação está no passo a mais fora do previsível e capaz de desbravar as fronteiras internas e os horizontes externos.
A metáfora do turista e do peregrino tem uma relação direta com a história dos dois presidiários. Tal como o turista, eles ambicionavam a fuga da prisão, mas continuavam trancafiados em si mesmos. Antes tivessem, como anseia o peregrino, desejado a busca pela liberdade. Quem sabe a vontade genuína teria a força suficiente para dar o passo desbravador.
O passo a mais demanda confiança em si e na vida. Qual outra maneira de nos confrontarmos com inevitáveis zumbidos, caos e incertezas?
Bem disse o Velho Taful: “convicção é não ter certezas”.
Sigamos! Sempre adiante, dando um passo mais, aquele que muda o curso da história.