O diabo não é tão feio como se pinta

Ruídos na porta de entrada, no meio da noite. Os moradores se juntam, assustados. Quem será? Um ladrão, um bandido? Os palpites se sucedem, um mais tenebroso que o outro. Enquanto os níveis de cortisol e adrenalina se elevam, alguns se afastam, amedrontados, procurando esconder-se. 

Outros, destemidos, resolvem averiguar do que se trata, armados de facas e porretes. Ao abrir a porta, com a respiração ofegante, deparam-se com um gato faminto. A grande ameaça cessa tão logo fazem contato com ela. E nem merecia o medo que gerou.  

A sabedoria popular ensina que o diabo não é tão feio como se pinta. Ou é, a depender da distância. De longe, prevalecem as fantasias, uma mais apavorante que a outra. De perto, não passam de um bichano qualquer inofensivo.

O que falta, muitas vezes, é o contato.

Quando Donald Trump prometeu em campanha erguer um gigantesco muro para separar os Estados Unidos do México, sociólogos observaram maior apoio daqueles eleitores que estavam mais distantes da fronteira. Temos aversão ao que não conhecemos ou não nos é familiar. O preconceito, o ódio e o racismo se originam da falta de contato.

O maior conflito armado ocorrido na América Latina se deu entre o Paraguai e os países vizinhos: Brasil, Argentina e Uruguai. A Guerra do Paraguai se estendeu de 1864 a 1870. Soldados brasileiros brancos e pretos se juntavam nas escaramuças. Amizades firmadas em trincheiras são para o resto da vida. Findada a guerra, a abolição da escravatura era irreversível e uma questão de tempo. Ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel apenas validava a aliança que já havia sido conquistada nas trincheiras.

Nós só amamos o que conhecemos. Para isso, o contato é o único meio, não há outro. Para desembaçar lentes preconceituosas, o melhor jeito é fazer contato. É o que gera mais confiança, generosidade e solidariedade recíprocas, além de ajudar a ver o mundo por outros ângulos.

E o que isso tem a ver com os negócios? Muito! Aquele cliente considerado chato e intratável talvez assim não seja, a depender da aproximação e do contato. Afinal, o diabo não é tão feio como se pinta. Da mesma forma, aquele colaborador considerado, de longe, insolente e subversivo. De perto, é provável que seja bem diferente, sobretudo capaz de nos mostrar realidades não visíveis antes. 

Quando crianças, temíamos o escuro e os fantasmas que lá habitavam. O que fazer? “Coloque o dedo no fantasma que ele desaparece”, nos ensinavam. Não é que dava certo? Bastava colocar o dedo no fantasma para que ele sumisse. Funciona até hoje.

O Capital Relacional serve para os negócios, mas também para a vida em sociedade e em comunidade. Vale incorporá-lo em nosso repertório para construirmos juntos um mundo melhor. Faça o movimento e constate.

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