Entre a autoridade e a autonomia

Um filme de treinamento que usávamos há tempos, se passava no departamento de protótipos em uma fábrica de aeromodelos. Era uma animação, em que um funcionário pedia a avaliação de seu desenho. O chefe elogiava o projeto, sugeria aperfeiçoamentos, batia nas costas do colaborador, que retornava à prancheta para fazer os reparos rabiscados pelo superior hierárquico. Tão logo concluía os ajustes, tratava de submetê-los a novo escrutínio. Os comportamentos se repetiam: elogio, tapinhas nas costas, observações e volta à prancheta.

A cena se repetia meia dúzia de vezes e, quando o funcionário examinava o esboço final aprovado sem nenhum reparo, a imagem tinha a cara do chefe. Era exclusivamente uma obra do chefe, não mais do funcionário, que, acabrunhado, se sentava na prancheta para apenas reproduzir aquilo que estava na cabeça de seu chefe.

“Já vi esse filme antes”, pensará você, reportando-se a situações semelhantes. Pois faça o exercício de empatia com o personagem do filme e depois avalie: quantas vezes tentaram convencer você sobre a melhor forma de atingir o resultado do seu trabalho? Quantas vezes você recebeu apenas a tarefa, sem saber a quem ou para que serve? Quantas vezes as suas ideias e propostas sequer são consideradas, pois a chefia já tem respostas prontas, mesmo que equivocadas? Quantas vezes nem consultaram você sobre algo que diz respeito ao seu trabalho? Afinal, quem está na linha de frente é você.

Quem recebe elogios, mas não é levado em conta, é tomado pelo efeito-contrário, o desânimo.

Continue exercitando a empatia e pense: qual é o seu sentimento quando a decisão vem pronta e, mesmo sabendo que não é o melhor a ser feito, você a executa a contragosto? É muito triste ver o circo pegar fogo sem poder fazer nada, mas é o que acontece quando o Capital Relacional é desperdiçado.

Dê-me autonomia é uma das súplicas do colaborador. Junto com várias outras, compõe o conjunto de súplicas que chamamos de Capital Relacional, o mais importante para a geração de resultados e que se eleva, quando existe autonomia. Na ausência dessa, por outro lado, se reduz, como evidencia a cena da animação de treinamento mencionada.

Examinando a súplica, talvez você não a reconheça em sua equipe de trabalho. Provavelmente até acredite, mesmo, que a maioria prefira obedecer e cumprir ordens. Arrisco dizer que as pessoas ficaram assim exatamente pela ausência de Capital Relacional.

Uma equipe criativa, comprometida e competente deve ser composta de pessoas que têm ideias próprias, fazem sugestões e são proativas. Não permanecem apenas à espera de ordens, mas se antecipam ao que é necessário fazer.

No fundo, no fundo, ninguém quer ser “pau mandado”. Todos anseiam exercitar seus talentos naquilo que fazem, do trabalho mais simples ao bem complexo.

Uma das principais missões do líder é transformar autoridade em autonomia. Autoridade é aquilo que os líderes têm. Transforma-se em autonomia na medida em que for transferida para seus colaboradores. Aquela autoridade – que também é poder – centralizada em uma única pessoa, deve ser distribuída para muitos outros. Só quando isso acontecer é que a empresa será muito poderosa, capaz de produzir mais e melhores resultados.

O Capital Relacional é a porta de entrada para uma Nova Economia. A melhor maneira de elevá-lo e colocá-lo a serviço dos resultados é perceber e atender as súplicas tanto de colaboradores como de clientes.

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