A banalidade do mal

Se me contassem, em meados de 2019, que viria uma pandemia provocando mudanças radicais em nossas vidas, eu não acreditaria. Chamaria de ficção científica o assustador cenário de máscaras, álcool gel, distanciamento, internações e óbitos.

Também não daria nenhum crédito às fontes, se me contassem que existe um “Índice de Medo e Ganância” auxiliando operadores do mercado financeiro e de capitais a tomar decisões. 

Tal como a realidade da pandemia, porém, esse índice mórbido existe, criado e divulgado pela CNN Business. De 0 a 100, quanto mais baixo o índice, maior é o medo e quanto mais alto, maior é a ganância. Durma com um barulho desse! Entre o medo e a ganância é o espaço de mundo onde, teimosamente, persiste a velha economia. 

Tal índice chegou aos 92 pontos no final do ano passado, indicando “ganância extrema”. Um analista de mercado, surpreso com o patamar, indignava-se das pessoas estarem mais gananciosas do que tensas, como se houvesse apenas essas duas alternativas de vida em tão árido mercado. 

Quando tomei conhecimento do índice, lembrei-me da filósofa e escritora judia Hannah Arendt quando, ao assistir ao julgamento do nazista Adolf Eichman por crimes de genocídio contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, declarava-se inocente por estar “apenas” cumprindo ordens. Diante daquele burocrata da morte, Arendt cunhou o termo “banalidade do mal”, em que as pessoas sequer têm consciência do mal que ajudam a promover.

A velha economia continua com os seus adeptos de sangue nos olhos. Diante da calamidade pandêmica, as Bolsas bateram recordes em 2020, enquanto a economia mundial afundava junto com os empregos e as vidas. Entre o medo e a ganância, nada de bom pode emergir. 

Do lado de cá, acreditamos no aumento da taxa de humanização do planeta (se o indicador não existe, está aí uma sugestão). Estamos certos de que nos reconstruiremos na medida direta do quanto ajudaremos a reconstruir a Casa Comum em que todos habitamos, com renovada e firme esperança na generosidade e na  solidariedade da Família Humana.

Nessa Bolsa, os valores são outros. Para o bem de todos nós!

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