Por quê?
Com essa indagação, a capa da última edição da revista Exame (27/01/2019) mostra um bombeiro caminhando sobre o mar de lama, na tragédia de Brumadinho.
Por quê?
No livro “Rico de Verdade”, apresento o conceito de riqueza traduzido em quatro dimensões. A primeira é a econômica. Na verdade, trata-se apenas de mera riqueza, antes de ser examinada de forma mais ampla, plena e sistêmica.
Para além da mera riqueza, ou seja, a dimensão econômica, existem outras: a filosófica, que dá sentido à riqueza, definindo a intenção de sua existência; a potencial, que considera a capacidade transformadora do trabalho e de quem o realiza; a causal, incluindo aqueles que atribuem valor e pagam por isso.
De um jeito mais direto, o cliente compõe a dimensão causal e o colaborador, a dimensão potencial. Juntas, formam a dimensão humana da riqueza. A dimensão filosófica é que vai definir se as intenções priorizam essas dimensões ou a econômica.
Metarriqueza é quando todas as dimensões são consideradas, ou seja, uma riqueza além da mera, restrita à dimensão econômica.
O que Brumadinho tem a ver com essa abordagem? Usemos a técnica dos seis porquês. Vamos repetir, sucessivamente, meia dúzia de vezes a mesma pergunta, com o intuito de chegar às razões da tragédia em Minas Gerais. Inescapavelmente, depois das várias desculpas e justificativas – e a matéria da revista apresenta várias delas -, descobriremos que a dimensão econômica se sobrepôs às outras ou que as dimensões humanas foram negligenciadas, o que dá na mesma.
Quando o biólogo Roberto Waack, entrevistado na revista, diz “é preciso ouvir as pessoas”, realça a importância da dimensão potencial como geradora de riqueza. Agora, depois do mar de lama, é com tristeza que acompanhamos o sepultamento da dimensão potencial, enquanto a dimensão econômica ressarce parte dos custos contidos e do que não foi devidamente investido em segurança, por optar pelo retorno aos acionistas nos lucros absurdos que a companhia auferiu, principalmente no último semestre. Essa é a velha economia, que valoriza mais o econômico do que o humano, ainda muito em voga, infelizmente.
De maneira drástica, Brumadinho oferece uma lição para todas as empresas: a dimensão econômica é parte de uma riqueza maior e não deve, nunca, se sobrepor às outras dimensões. A potencial e a causal constituem o conjunto de dimensões humanas, e são mais relevantes e significativas do que a econômica. Estão muito acima do cenário mais considerado pelas empresas tradicionais, ou seja, aquele dos indicadores de desempenho, das metas organizacionais, do retorno aos acionistas, da bolsa de valores e do mercado de capitais, dentre outros fatores mais concentrados em aspectos quantitativos do que qualitativos.
Enquanto a indagação da capa da revista Exame continuar sem a resposta verdadeira, o Efeito Brumadinho continuará a fazer estragos em organizações de todos os tipos e lugares, produzindo mais miséria do que riqueza. Sem se dar conta, apostam na escassez, que certamente se espalha como praga daninha e incontrolável para dentro de seu próprio território.