A ponte que caiu

Parte de uma ponte, em São Paulo, cedeu, provocando um grande desnível na estrutura. Todo paulistano sabe disso. É alertado por várias fontes, solicitando que evite transitar pelo local. A confusão se acentua, na cidade, já um caos com ou sem ponte.

Quem não mora na metrópole também está fartamente informado a respeito. A notícia correu o país e os que chegam pelas rodovias sentem o problema tão logo acessam as marginais.

Aproveito para fazer uma analogia com os relacionamentos. Afinal, nada mais caracteriza tão bem uma relação do que uma ponte. E quando ela cede, os efeitos sistêmicos são mais devastadores do que podem parecer, à primeira vista.

Assim como aquela ponte, agora em degrau, relacionamentos não ruem de uma vez. Eles vão sendo minados aos poucos, até ruir completamente. Muitas vezes, a coisa começa   na interpretação de um comportamento. E o problema costuma estar mais na interpretação que o sujeito A faz da atitude do sujeito B. O conflito que se avizinha morreria na origem se A perguntasse para B sobre as suas reais intenções. O diálogo é, sem dúvida, a principal ferramenta para não deixar um conflito avançar. Infelizmente, não raro se troca o diálogo pela suposição, acentuando a fantasia.

Esse processo, em que a interpretação se sobrepõe à realidade e a fantasia ocupa o lugar do diálogo, recebe o nome de incubação. A vítima começa a espalhar a sua versão para outros e, quanto mais a repete, mais torna-se verdade no seu imaginário.

O outro lado se ressente ao perceber mudanças na qualidade da relação ou – pior ainda – ao tomar ciência, por outros, da ficção engendrada. Ao invés de recorrer à principal ferramenta de relacionamento e solução de conflitos, o diálogo com quem iniciou a cascata, segue em frente contando para si e para mais gente a sua maneira de enxergar o acontecido, tão fantasiosa quanto a do oponente. Graças à incubação bilateral, a ponte se desestabiliza gradativamente. E a hecatombe é certa, se ninguém fizer uso da ferramenta salvadora.

Uma relação que se rompe equivale à queda de uma ponte.  Embora seja um acontecimento tópico, entre duas pessoas, seus efeitos são sistêmicos, do mesmo jeito que os pontos cardeais da cidade de São Paulo foram abalados pelo viaduto que cedeu na Zona Oeste. Ou seja, muita gente que não tem nada a ver diretamente com o conflito é também atingida.

Construir e consertar pontes para resgatar a paz e a harmonia – e antes que seja tarde – eis a lição da ponte!

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