No mundo das empresas, o tema é sempre importante e urgente: a sucessão empresarial. Lido com empresários que anseiam um processo sucessório exitoso, preferencialmente para algum de seus filhos. Destinei o livro “O Devir” a esse tema, mas, aqui, recorro à mitologia grega, sempre rica nas analogias e metáforas, além de atemporal e universal.
Em Atenas, Dédalo era um empreendedor muito criativo. Sua fama se estendia por toda a Grécia. Os reis compunham seu rol de clientes e não vencia de atender a tantos pedidos, geralmente estátuas para embelezar palácios. Talo, um de seus colaboradores-aprendizes, para a inveja do mestre, de tão talentoso, conseguiu inclusive superá-lo. Talo inventou o torno, o serrote, o compasso e seu gênio criativo parecia não ter limites.
Preocupado com os avanços do discípulo, Dédalo foi perdendo, aos poucos, sua própria verve. Preferiu livrar-se de Talo na expectativa de retomar a fama que julgava ser apenas sua. Sem o seu genial aprendiz, tudo o que Dédalo conseguiu foi limitar-se a atender às demandas corriqueiras, nada mais.
A história de Dédalo tem outros desdobramentos, mas vou me restringir ao que nos interessa, ou seja, o processo sucessório. Vou me concentrar, portanto, no ingresso de Ícaro, seu filho, na história.
Um dos sonhos que Dédalo acalentava, para si e seu filho, era voar como os pássaros. Tratou, então, de inventar algo capaz de tornar esse desejo realidade. O artifício consistia em criar asas artificiais, com penas de verdade, fixando-as ao corpo com cera. Assim que terminou os acessórios, testou-os, consigo e em Ícaro, a quem recomendou não voar muito alto. Ambos se colocaram à beira de um precipício e saltaram no vazio. As asas realmente funcionaram!
Ícaro, sem atentar para a orientação paterna, ficou tão deslumbrado com a sensação de liberdade que resolveu ir cada vez mais alto. Assim, foi se aproximando do sol, cujo calor derreteu a cera das penas, interrompendo o voo. O jovem despencou em direção ao mar e morreu afogado. Além de perder o filho, Dédalo, desesperado, também acabou ficando sem o resto de criatividade que ainda lhe restava.
A tragédia, que virou um mito, ensina muito sobre os sentimentos humanos. O ego inflado de Dédalo aprisionou sua capacidade empreendedora e seu espírito criativo. Talo, o aprendiz, herdou o talento do mestre. A Ícaro, o filho, coube a triste herança do exacerbado instinto de competição e a inveja transmutada em vaidade.
Assim como faziam os antigos gregos, deixo o espaço aberto para que você, leitor, reflita a respeito e extraia outros aprendizados da história.
Hoje está muito em voga ser criativo, ser idealizador, ser sonhador. Mas a simplicidade e humildade também são atributos que devemos resgatar. Pensamos constantemente em resultados acelerados, mudanças de valores devem ocorrer ou quem sabe de paradigma.
Júlio
Você tem razão.
Valores como simplicidade e humildade estão acima dos ideais e da criatividade.
Ajudam a colocar nossas ideias na medida certa.
Abraço