Ouvimos em algum lugar que o apego não é coisa boa. E existe, caso você seja refém de seu trabalho, a ponto de precisar – para se sentir alguém – de um sobrenome que remeta a um cargo, função, departamento ou empresa. Fulano do financeiro, sicrana do RH, beltrano da companhia XYZ são denominações que indicam apego. O receio de abrir mão disso impede que a pessoa seja verdadeiramente quem é. Ou seja, o apego se expressa em uma falsa identidade que transforma alguém em um ser utilitário. Quando se faz útil, reduzindo-se a mera ferramenta, a pessoa esquece de sua essência. É tudo muito sutil, mas com raízes profundas que é preciso observar.
Examine com cuidado cada situação e verá que o apego está mais presente do que pode imaginar. É, de certa forma, produto do medo. Medo de perder, medo de fracassar. Verifique e constatará como se manifesta até em pequenos detalhes normalmente sequer detectados.
Por outro lado, e paradoxalmente, o que falta para alguns é um pouco mais de apego. Sim, o reverso da moeda também existe, representado por aqueles que não se apegam a nada. Não se sensibilizam nem se compadecem ou se engajam. Levam vida de turista e estão sempre de passagem, tanto nos empregos como nos empreendimentos. Não se comprometem com nada e ninguém, inclusive eles mesmos. Preferem uma vida mambembe a envolver-se.
Existem, portanto, bons e maus apegos, é fato. Apegar-se ao que vale a pena é o que precisa ser feito, não ao que é ruim. O discernimento ajuda a escolher e o propósito é um bom crivo. Apegar-se a um bom propósito permite transformar o transitório, do turista, no transcendente, do peregrino. É comprometer-se consigo, com os outros e com a vida. Uma atitude que revela integridade.
Penso que muitos de nós temem o compromisso, por acreditar que reduz o leque de opções e cerceia a liberdade. Crasso engano! Amor é decisão e compromisso, então o apego – a partir da escolha do propósito – é uma libertação. “É querer estar preso por vontade”, como diz o verso de Camões. Um tipo de amor que justifica plenamente tornar-se refém, para sempre.
Parabéns pelo texto.
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Vilmar Carvalho.
Obrigado Vilmar.
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