É interessante como somos reféns de nossos condicionamentos. Refiro-me ao modelo mental que nos governa e nos faz repetir comportamentos, sem uma reflexão mais profunda. Uma simples palavra pode funcionar como a senha que aciona o piloto automático de nosso entendimento. Vou dar um exemplo.
Nas sessões de aprendizagem que conduzo, muitas vezes anuncio uma atividade: “vamos fazer um jogo”. A palavra jogo é suficiente para despertar os instintos competitivos dos participantes. A partir de tal senha, a arena de guerra está armada. Cada um por si, Deus por todos se possível, e a busca pela vitória é imediata, com enquete final feita de vencedores e perdedores. O medo de perder restringe a criatividade, a desconfiança instalada limita os relacionamentos e os resultados, nesse contexto, são sempre precários ou aquém do que poderiam ser em um ambiente menos predatório.
Note que tudo acontece por conta de uma só palavra: jogo! Se a proposta fosse “vamos fazer uma dinâmica”, os resultados seriam bem diferentes. Mas a menção a jogo está impressa em nosso cérebro como algo que remete ao individualismo e à competição.
Não há nada de errado com a palavra, é bom lembrar. Equivocado é o viés de nosso entendimento: a escuta condicionada, a leitura tendenciosa da realidade.
A vida no trabalho e nos negócios é um jogo, sim. Mas quem disse que precisa ser competitivo e predatório? Porque não pode ser divertido e criativo? Ninguém perde quando o jogo é cooperativo e a criatividade, coletiva. Quando o processo é participativo e a inovação beneficia a todos, todos ganham ou… todos perdem. Mas quem perde junto aprende a ganhar junto!
Voltemos, então, ao nosso assunto: o condicionamento e a superficialidade com os quais tratamos determinadas palavras ou temas. Antes que o cérebro nos engane com os seus automatismos, é preciso recorrer à consciência para buscar o discernimento necessário que nos torna mais lúcidos diante da vida e dos seus jogos diários.