Em sessões de aprendizagem que conduzo, muitas vezes pelo tempo espremido e, principalmente, para não perder o fluxo, determino: “Um minuto e meio para banheiros! Nada de se dispersar”.
“Qual o quê!”, como diria a canção de Chico Buarque. Mesmo trabalhando com adultos inteligentes, de nada adianta o aviso. A nova dependência química é mais forte e eis ali quase todos presos aos seus celulares lendo, falando ou disparando mensagens. O patético dessa atitude é que nada é tão urgente, poderia esperar, sim! Embora já tenha se transformado em uma doença epidêmica, está se tornando um estado “normal” da mente humana.
“Cérebro de pipoca” é um termo que tem sido usado por psicólogos norte-americanos para definir uma mente sobrecarregada. Para melhor entender o efeito, basta dizer que parece com a sensação de empanturrar-se e continuar enchendo o estômago com mais comida. É como permanecer à mesa de jantar comendo 24 horas por dia. Conhecemos os efeitos nocivos ao organismo do exagero na alimentação, mas desconsideramos os estragos que a overdose incessante de informações provoca na mente.
Essa congestão mental, segundo os psicólogos, causa alterações químicas cerebrais que impedem a concentração em um único assunto, como falar ao telefone, ler um livro, conversar com alguém olhando para o rosto da pessoa. Dedicar-se, portanto, sem fazer outras coisas, simultaneamente. E também, ao contrário do que se pensa, inibe a aprendizagem, pois aprender é assimilar, algo que requer tempo.
Forçado a enfrentar um quadro tão caótico, o cérebro atua como o milho da pipoca estourando em óleo fervente. Daí a expressão usada para definir o novo tipo de dependência química.
Pesquisadores da Universidade de Stanford concluem que, quem faz muitas tarefas ao mesmo tempo, desenvolvendo o tal “cérebro de pipoca”, fica menos funcional. Como não aprende a ler as emoções, tem sérios problemas para trabalhar em equipe; como não sabe se concentrar, discernindo o que é relevante do que é irrelevante, também é incapaz de definir prioridades. Nem sabe o que fazer com o excesso de informações que busca e recebe o tempo todo.
Talvez esteja aí a raiz ou a razão de doenças da modernidade, como a ansiedade e a hiperatividade (às vezes erroneamente consideradas dignas de orgulho por muitos pais, ao comentar de boca cheia: “meu filho é muito ativo”) e tratadas precocemente com remédios de tarja preta. A mente empanturrada não aguenta e entra em colapso. Um problema que fica ainda mais claro quando se recorda um sutil diálogo:
– Mestre, o que é paixão e excelência?
– É comer quando você come, trabalhar quando você trabalha e descansar quando você descansa.
– Simples assim? – indaga o discípulo, surpreso.
– Sim, mas muito poucas pessoas são capazes disso.
Fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo significa não colocar paixão em nenhuma delas. E sem paixão a vida vai perdendo o viço.
Precisamos urgentemente nos tornar adictos, mas de um propósito que propicie sentido e significado capazes de nos salvar dessa nova epidemia. Ao propósito, portanto. Sem demora nem dispersão!