Saiba o que poderá nos salvar

“Existe algo mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem?”

Com essa indagação, Yuval Noah Harari, doutor em história pela Universidade de Oxford e autor do best-seller Sapiens, conclui o livro. São mais de quatrocentas páginas em que relata a atribulada história da humanidade. E o final dá mostras de que as aflições sofridas até aqui são café pequeno diante das que ainda virão. Uma visão inquietante e nada otimista.

De fato, a pergunta final é intrigante, para dizer o mínimo que nos suscita. O homem está cada vez mais instrumentalizado e tecnológico, mas a qual caminho isso nos levará sem que haja – na mesma medida ou até mais – uma expansão de consciência?

Já abordei essa questão, em outros textos, lembrando como a eficácia e a apurada técnica germânica lamentavelmente transferiu seu know-how para os campos de concentração nazistas, no século passado.

Um olhar ligeiro sobre a realidade nos sugere que o avanço tecnológico parece crescer em PG (progressão geométrica) e a consciência parece expandir-se em PA (progressão aritmética). O que será de um sem a sustentação da outra?

Vou tentar responder à indagação de Harari: não, não há nada mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem. Sem que haja um propósito superior, as pessoas se perdem em objetivos e metas evasivas que não levam a lugar nenhum. Não basta saber apenas o que se quer, mas é preciso dar dimensão e grandeza a esse querer.

Trato do tema em meu livro mais recente, “O velho e o menino”. Tudo começa com um desejo, mas não um desejo qualquer. Tem de ser um desejo cuja semente esteja na primeira intenção, aquela que tínhamos quando crianças. É preciso recuperá-la, porque revela o nosso querer mais puro e menos contaminado por inúmeras segundas intenções que nos invadem todos os dias.

É nesse estado mais puro que podemos descobrir o nosso propósito, aquele que melhor representa o verdadeiro querer. É ele que poderá nos salvar, impedindo que nos transformemos em deuses insatisfeitos, irresponsáveis e –acrescento – arrogantes, predadores de um magnífico planeta que é de todos nós.

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