Da instigante descoberta do propósito

Concentrei-me, durante muitos anos, sobre o desafio de forjar um propósito, até aprender que não é algo que se produz, mas se descobre. Precisamos percorrer veredas para que o propósito se apresente e, só depois de sabermos qual é, os caminhos se abrem. Não por acaso, o título de um dos capítulos do livro “O velho e o menino” é “A seta e o alvo”, em que o propósito é o alvo, aonde queremos chegar, mas também a seta, o seu sentido.

 

Assim a seco, pode parecer confuso, mas na trama não deixa dúvidas. Escrevi de tal maneira que o leitor possa afinar o alvo e refinar-se como seta. É aí que o menino entra em cena, oferecendo-lhe uma projeção de sua própria criança. Aquela que guarda os melhores desejos e que resguarda a primeira intenção, muito antes das segundas roubarem a cena e ocuparem mais espaço do que deviam.

 

Faço, também, uma distinção entre destino e desígnio. Destino está posto, não há o que fazer. Os deterministas acreditam nele e se acomodam, apostando nos ventos favoráveis da sorte. Desígnio tem a ver com o impacto futuro das escolhas e decisões no presente. Não se trata, portanto, “do que eu farei se isso acontecer”, mas “do que acontecerá seu eu fizer isso”. Refere-se, portanto, a nossa capacidade de influenciar o devir. E de caminhar, passo a passo, deixando pegadas.

 

“São os passos que fazem o caminho”, como dizia Mario Quintana, um amigo do Velho Taful. Personagem de “O velho e o menino”, ele diz sem rodeios: “quando vivemos encerrados nas teias do destino, sem encarar o desígnio, as portas se fecham, os esforços são desmedidos, os empenhos geram desempenhos cada vez mais fracos e não se cessa de dar murro em ponta de faca”. E vai mais longe: “um grande potencial pode ser destruído e a sorte passará entre os dedos”, para concluir: “há quem chame tais infortúnios de destino, mas não passam de reiterada recusa ao desígnio”.

 

O que de pior pode nos acontecer é passar ao lado de nosso propósito sem reconhecê-lo. Caminhe, pois, com refinada atenção!

 

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Sandro F. Antonio
Sandro F. Antonio
7 anos atrás

Gosto das palavras “instigante”, “propósito” e “projeção”, são emblemáticas e contrariam aqueles que na leitura buscam por afago.
O velho e o menino, está causando muita curiosidade…
Mario Quintana então? Poxa Roberto! Isso que se leva ao dizer “acertar na mosca branca de olho azul”…

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

perfeito!

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