Muitas são as mesas em que nos sentamos. As de negociação, de jogos, de reunião, de discussão, de debates, de câmbio, de juramento e de julgamento. São tantas, mas nem sempre nelas nos acomodamos com naturalidade e espontaneidade. Ao contrário, em algumas nos ajeitamos armados, desconfiados dos pares que as compõem.
Existe, no entanto, uma onde nos fizemos e continuamos nos refazendo. É a mesa da convivência.
Sim, a mesa da convivência é onde se dá o refazimento da humanidade por obra e graça de um movimento chamado comensalidade. Comensalidade significa comer e beber juntos. Todos se sentam para alimentar-se, beber, comungar e celebrar juntos a grande família humana, que se reencontra como amigos e amigas, irmãos e irmãs. São comensais em harmonia. Aliás, a origem da palavra companhia é, justamente, o latim cum panes, ou seja, dividir e comer o pão juntos.
Podemos dizer que saímos da animalidade para a humanidade por meio da comensalidade. Ela veio de nossos ancestrais, os primatas, que saíam para colher frutos, sementes, caças e peixes, e já não gostavam de comer separados, cada um por si. Levavam a colheita diária ao grupo para partilhar e nutrir-se comunitariamente. É bem provável que tenha sido o início do que mais tarde veio se chamar cooperação, altruísmo e solidariedade. A comensalidade tem um papel importante na formação da espécie humana.
A Metanoia, oferece um programa de educação, chamado Paideia, voltado para jovens de 15 a 20 anos. Paideia é um nome grego que significa a formação do humano. Pois é esse mesmo o propósito! Os aprendizados têm sido muitos, tanto para os participantes como também para nós, acostumados a processos de educação destinados a adultos empresários, empreendedores e líderes.
Entre esses aprendizados, eu gostaria de compartilhar uma instigante descoberta: os jovens, ao contrário do que muitos pais imaginam, desejam a experiência da comensalidade. Querem sentar-se à mesa com seus pais e valorizam tal vivência.
Há quem duvide, ao ver seus filhos, nessa faixa de idade, plugados na internet quase 24 horas por dia. Em parte, há uma razão para que a experiência desande. Acontece que a experiência à mesa não costuma ser das mais agradáveis. Ao invés de ser a mesa da comensalidade, passa a ser a mesa das cobranças. Sim, muitos pais agem como se estivessem despachando na empresa: “como está a escola?”, “está estudando direito para o ENEM?”, “já decidiu qual faculdade vai cursar?”, “onde foi ontem à noite?” etc. etc. etc.
Os jovens querem partilhar a vida, os medos e os anseios, as angústias e alegrias, os propósitos e os valores. Temem que a teia de relações de suas famílias possa se partir. Almejam ter um lar que lhes ofereça suporte, que os entenda e que os ame.
O medo de perder esta teia de relações que dá lastro ao sentimento de lar leva muitos jovens a procurar outras redes de relações, nas quais se sintam acolhidos. Ali, onde são ouvidos, notam que prestam atenção ao que dizem e, eles também, ouvem palavras que os tocam e comovem, é onde se sentem em casa. Como virtuosos comensais!
um costume a ser novamente inserido no contexto humano e corporativo. A arte de fazer mais com menos começa com um quase “ócio criativo” à mesa, compartilhando de alimento material, emocional, mental e espiritual – por que não? Tô nessa! Parabéns. Vamos incrementar isso aí a começar em nossa casa e estender aos nossos negócios, colaboradores e parceiros, blz?