Desde o momento que decidi escrever esse texto, tentações comuns me assolaram. A de abrir a caixa de e-mails para conferir as entradas, a de consultar o celular para ver as novas mensagens de WhatsApp, a de ler uma correspondência à espera sobre a mesa de trabalho, a de ligar o som para deixar uma música de fundo ou levantar da cadeira para regar as plantas ou, ainda, buscar um copo d’água. E, quando penso em seguir adiante, dou uma olhada em direção às pendências sobre a mesa lateral clamando por ser resolvidas.
Enquanto isso, o texto não flui, o raciocínio interceptado por uma atenção difusa. Sou da velha guarda e aprendi a fazer uma coisa por vez. Sempre estranhei a nova geração multifuncional, capaz de fazer seis coisas ao mesmo tempo. Mas está provado: existe um custo na dispersão.
Toda vez que mudamos o objeto de nossa atenção, o cérebro precisa se reorientar, o que o sobrecarrega. Interromper uma tarefa que está sendo executada para enviar um e-mail ou ler mensagens no celular gera custos de dispersão. A depender da quantidade de interrupções, as reservas de atenção diminuem depressa, dificultando o retorno ao que estava sendo feito. Distribuir tal reserva entre múltiplas tarefas, por acreditar que assim aumenta a produtividade ou a eficiência é um grande engano, pois cada uma delas carecerá do foco necessário.
Tem uma outra questão nessa história: a de interessar-se por aquilo que está fazendo no decorrer do trabalho, não apenas pelo resultado. É bem verdade que somos treinados para os resultados, não importando tanto o processo. É a famosa frase “o que vale é bola na rede”, ou seja, o gol supera os esforços ou dificuldades que o precederam. Mas não é bem assim. Se levarmos em conta o prazer e o bem-estar, o processo é mais importante do que o resultado. Diante deste, tudo está consumado, mas é no processo que vivemos a experiência. Concentrar-se no que se está fazendo, e uma coisa por vez, traz mais alegria e bem-estar do que se perder no emaranhado de múltiplos afazeres, mesmo que o gol não seja conquistado ao final da partida.
Sem dúvida, a tecnologia ajudou muito a ampliar os ganhos de produtividade. Ainda me lembro do tempo da máquina de escrever, quando era necessário reiniciar o texto várias vezes até chegar ao ponto. Uma grande perda de tempo, papel e energia. Mas não será muito diferente, hoje, exceto pelo papel, se nos deixarmos dispersar por mensagens anunciadas ou pelo toque sonoro do celular, enquanto elaboramos algum tipo de trabalho no computador. O mesmo vale para aquele texto cheio de links lido na tela.
Antes de cair em tentação, portanto, avalie o custo da dispersão. Acredite, não compensa! Pense nisso sempre que achar mais produtivo e eficiente dividir-se entre várias tarefas ao mesmo tempo, pois é provável que esteja ocorrendo exatamente o contrário. Concentrar-se, acredite, é muito melhor.
Muito feliz o artigo e totalmente alinhado com as mais recentes pesquisas sobre o funcionamento de nosso cérebro. Vejam o artigo publicado na folha:
http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/994343-fazer-duas-coisas-ao-mesmo-tempo-estraga-capacidade-de-atencao-diz-livro.shtml
Obrigado Roberto!
Guilherme, meu caro
Abraço para você.