Parece, mas não é. A farta é diferente do excesso. O excesso é para quem não acredita na farta. É um tipo de coerção. Uma adição feita à força. Olhe para os lados e veja como o excesso está tomando conta: a comida em exagero, a roupa desnecessária, o remédio sem prescrição, a produtividade máxima, o consumismo exacerbado. Tudo em demasia. É o excesso. Nada a ver com a farta.
A era do demais – coisas, produção, consumo – é resultado dos excessos. Pode parecer estranho, mas o excesso existe justamente por falta de fé na farta. Aposta-se na artificialidade para afastar a possibilidade da insuficiência. Está ligado mais à falta do que à farta. Provém de uma visão de escassez. O excesso existe no mundo de fora para compensar a escassez que habita o mundo de dentro.
Mas não é só isso. O excesso, com suas muitas e múltiplas coisas, desconfigura o sujeito. É como se, misturado com tantas coisas, o sujeito não conseguisse mais se ver como sujeito, e sim parecido com as coisas. O mundo do excesso é o mundo da coisificação do humano.
A farta, por sua vez, não requer artifícios. É a prova de que a vida é boa e bela. Naturalmente. Ela vive nas mentes desenvolvidas de quem foge dos excessos e nos corações generosos dos que sabem dividir.
Excessos podem produzir fortunas, mas as fartas geram farturas: de oportunidades, de riscos, de boas ideias, de talentos, de riquezas.
A farta é a abundância que habita o mundo de dentro para, então, se expressar como fartura no mundo de fora. Na exata e gratificante medida.
Amigo Roberto, lendo este seu artigo, lembrei da sua analogia com as malas que carregamos no decorrer das nossas vidas e o excesso de fora gerado pelo vazio de dentro, acaba trazendo como resultado uma imensa exaustão física e mental, alimentando um círculo vicioso que gera mais excessos.
Abraços
Ricardo Stiepcich
Amigo Ricardo
Lendo seu comentário lembrei-me daquela citação do livro Pegadas (agora Metanoia – Os Passos), do Ramana Maharshi: “Ponha a sua bagagem no chão;
o trem já está em movimento” e do quanto a gente perde da viagem ocupados e preocupados com a bagagem, que representa os excessos.
Abraço,
Roberto