Em conversa com um professor de matemática do ensino médio, ele me explicou a estrutura de suas aulas. Ao chegar à sala, cumprimentava os alunos, pedia – invariavelmente – que os celulares fossem desligados, escrevia na lousa a “rotina”, um anuncio do que seria dado, depois, durante pouco mais de um quarto de hora, explicava a matéria e o resto do tempo para completar 45 minutos cravados eram dedicados para que os estudantes fizessem os exercícios.
Perguntei a ele qual era o indicador de aprendizado. E me surpreendi com sua resposta: menos da metade dos estudantes aprendia. Um índice baixíssimo, considerando que a meta teria de ser de 100%! Ninguém deveria sair da classe na ignorância.
Também lido com educação, só que de adultos. Não sei se faz alguma diferença, mas nossos métodos são bem distintos. O do professor do ensino médio é a pedagogia (método de ensino para crianças), o meu é a andragogia (método de ensino e aprendizagem de adultos). Na pedagogia o professor ensina, na andragogia, o educador facilita o aprendizado.
Logo me lembrei daquela anedota: a menina chega da escola e sua mãe quer saber:
– Filha, o que você aprendeu hoje na escola?
– Nada, mãe, a professora falou o tempo todo.
Na andragogia, uma sessão de aprendizagem – algo que nem ao menos chamamos de aula – não acontece sem que antes provoquemos os educandos com uma pergunta cujas respostas são capazes de indicar o que cada um conhece sobre o tema a ser tratado. Sabemos que é impossível encontrar quem desconheça totalmente o assunto. Os educandos, então, compartilham seus entendimentos e dúvidas e, somente depois de esgotados os conhecimentos disponíveis, deixando-os com a curiosidade aguçada para saber ainda mais, é que as informações pertinentes ao conteúdo são oferecidas. Justamente para complementar aquilo que eles já sabem ou tiveram a chance de aprender uns com os outros.
Aprendizado é um percurso entre dois pontos, considerando que A é onde está o repertório do educando com o menor nível de conhecimento sobre o tema em pauta e B é a meta, ou seja, a quantas devem estar todos, no final da sessão. Só é possível conseguir isso identificando o ponto A, quando todos têm oportunidade de se expor.
O método é eficaz. Acredito que também seria para alunos do ensino médio. Mas não se encaixaria em uma aula de 45 minutos. Aliás, quem foi que instituiu esse teto para as aulas? Decerto algum burocrata que entende de eficiência e produtividade, mas nada de educação. A significação, também conhecida como insight ou eureca, é o essencial do aprendizado, e acontece no tempo de cada um. Só que é preciso dar exatamente tempo para que ela aconteça.
Não duvidei das boas intenções daquele professor com quem conversei, mas acho que ele tem mais amor pela matemática do que por seus alunos. Penso o mesmo sobre a maioria dos dirigentes de escolas: têm mais amor pelo campus, com seus recursos instrucionais, do que pelos aprendizes, com suas dúvidas, angústias e desejos.
Se continuarem a trabalhar dessa maneira, a cada dia terão mais problemas para competir com a interatividade dos celulares.
Não há como não comentar esse assunto!
Após 30 anos do distanciamento dos estudos e motivado pelo problema empresarial que sofri, retornei a sala de aula do ensino médio, (publico, por opção de ver e sentir de perto o que não vivi no passado) e estou horrorizado! Professores que não sabem escrever, se comunicar, se portar, se reportar, faltam, reclamam do governo (achei isso impressionante, visto que é o governo que os professores da rede publica sempre quiseram!)… Por fim, noto que tenho mais conhecimento do que as pessoas que deveriam me ensinar!!! Obviamente alguns notaram que sou diferente do restante da classe e apenas um dos nove professores me “interrogou” pra saber o que eu estava fazendo ali…
Hoje eu entendo o porque é tão difícil encontrar colaboradores em condições de crescer… eles não tem nada a aprender no ensino publico… na minha opinião, entre o ensino publico atual e a interatividade dos celulares…. fico com o segundo!
Sandro
Você tem razão, é por isso a dificuldade de encontrar colaboradores em condições de crescer.
E é por isso que toda empresa deve ser uma extensão, um complemento ou suplemento da educação.
Todo líder deveria ser um educador.
Abraço, fico feliz de vê-lo acompanhar ativamente meus escritos.
Tem sido gratificante acompanha-lo nos escritos, tanto no site quanto em seus livros.
Ando “desvendando” os significados da Metanóia…
Necessitamos de ser para nossos colaboradores, mais que empresa e realmente educar é essência hoje… Faz parte do projeto de crescimento da própria empresa!
Como bem diz, no corpo, mente e alma!
Que a semana seja excelente!
Sandro
Somos como companheiros de viagem.
Abraço