Pois é, o diálogo fica difícil. Truncado mesmo. Você fala daqui e eu, de acolá. Não é que eu ignore o mundo visto daqui. Sei como é. Também vivo nele. Cheio de percalços, crises, medos, perturbações. E o problema dos problemas é querer resolver as coisas do aqui no aqui.
Sei que você tem garra, verve, gana, determinação, todas as qualidades valorizadas no mundo daqui. Sei até que admiram muito você por isso, por considerarem que tem força, resiliência e se esforça bastante. Tem os traços do guerreiro, e, de certa forma, tal imagem nutre a sua autoestima. Mas, quer aceite ou não, você não é invencível.
Lembre-se do que avisei de saída: você não vai conseguir resolver as coisas do aqui no aqui. Sei que você se vangloria de ser como o bambu que enverga, mas não quebra. Em verdade, mesmo que você se desdobre, a sua vitória não será completa até que se dobre. Comece, então, a aceitar a sua vulnerabilidade. Assim, vai compreender e assumir que o aqui não se resolve no aqui: o aqui só se resolve no acolá.
A menos que tenha desistido da conversa por divergir ou achá-la esquisita, pouco útil, e mergulhado de vez no aqui para não perder tempo, nesse ponto de nosso diálogo talvez tenha surgido uma ponta de interesse pelo tal do acolá. No mínimo, uma curiosidade: afinal, do que é que se trata?
O acolá é um lugar onde o medo não existe, pois é onde reside o desejo. Também é o lugar onde a escassez, mãe da crise, não tem espaço, pois o acolá é a vida em abundância. No acolá os vícios não têm vez, pois é lá que moram as virtudes. Como vê, a vida no acolá e muito diferente daquela do mundo no aqui.
Ouço muito as pessoas dizerem que, depois de resolvidos os problemas do aqui, aí sim terão tempo para pensar nas divagações do acolá. Pois o aqui é premente e não há tempo a perder com conjecturas. Insensatas! Reafirmo, para que você guarde bem a mensagem: o mundo do aqui não se resolve no aqui! Pensar o contrário é um equívoco, uma via de mão única, rumo à infelicidade. E a carga só aumenta de tamanho, quanto mais esforço se faz e mais força se coloca. De tanto esticar a corda, ela pode inclusive arrebentar, na forma de estresse ou depressão.
A vida no acolá está disponível a todos, mas é preciso acessá-la. Ela está sempre próxima, desde que cada um de nós a ela se conecte.
Uma coisa é olhar do aqui para o acolá. Outra, é olhar do acolá para o aqui. Na primeira situação, o acolá é visto como algo a que se recorre quando se necessita. É um tipo de pronto socorro que se visita em emergências. Algo de que se faz uso para amenizar o choque das crises do aqui, uma espécie de paliativo de esperança.
Na segunda situação, o acolá é o lugar onde se está, em que se define o jeito de viver e de ser. Não pense no acolá como uma redoma isolada e protegida das turbulências do aqui. Não é um paraíso, pois o aqui será sempre o campo de prova e é nele que vivemos as nossas experiências. Mas nutridas, inspiradas, esperançadas e alicerçadas com as boas energias do acolá.
Nada como alterar perspectivas, para, aí sim, ter uma visão ampla e gratificante de nosso sagrado cotidiano.
MARAVILHOSO E OPORTUNO!!!
um abraço Roberto!
Estela
Abraço para você também.
Este é um daqueles para guardar e revisitar.
Maravilhoso, como diz a Estela.
Esta semana tive uma experiência fantástica, que pude viver na prática que não resolvemos as coisas do “aqui” no “aqui”.
Ricardo, meu caro
Coisas que a gente compreende, repentinamente, quando conectados com o acolá.
Abraço do amigo.
[…] Para não perder nenhum detalhe aprecie também a versão escrita: Do aqui e do acolá […]