A esperança é a última que morre! Quem já não ouviu esse ditado? Faz parte das crenças populares ou do que gostaríamos de acreditar. Porque há quem desfaleça, deixando a esperança em penúltimo lugar. E não se trata da morte, aquela que encerra o expediente de alguém, por aqui. Nem da depressão, a sombra nefasta que cresce a cada dia e se alastra nos tempos de crise. Refiro-me à anomia, a morte em vida, ou à vida sem sentido nem significado.
Escute a conversa entre os funcionários de qualquer estabelecimento comercial e verá que o assunto é a compensação de horas, a próxima folga, quanto falta para terminar o expediente etc. Fale com o gerente e verá que ele está mais preocupado com o final de semana, se irá à praia ou a um hotel fazenda com a família. Da mesma forma, com o dono do estabelecimento e perceba o quanto está focado no planejamento de sua próxima viagem ao exterior. Todos eles têm algo comum: nenhum está suportando a sua vida, principalmente a profissional. Todos sofrem da mesma pandemia: a vida sem sentido e significado.
Tem muita gente vagando a esmo por aí, entorpecida com entretenimentos banais. Certas pessoas não param de se deslocar, errantes, de lugar um para o outro no afã de fugir de si mesmas, enquanto atenuam o vazio existencial com a falsa ilusão das carícias de plástico dos profissionais do turismo. Algumas buscam o isolamento em suas próprias casas, transformando-as em um parque de diversões.
Não passam de galhos secos, nada mais sentem, como naqueles versos da música “socorro, eu não estou sentido nada, nem medo, nem calor, nem fogo”. Não se comovem, não se compadecem, não se apaixonam nem militam causas. Que seria da espécie humana se todos jogassem a toalha e se a esperança morresse antes?
Por sorte, embora os trabalhadores sejam poucos e a messe, grande, são esses abençoados que constroem a história, na sua árdua labuta de vida existencial e espiritual. Não são necessariamente doutores, cientistas, clérigos, legisladores, filósofos, versados no Vedas ou nos livros da sabedoria. Em geral, são pessoas que sabem viver com simplicidade, altruísmo e propósito. Compreendem que a vida é projeto e que existem mais coisas a fazer do que limitar-se a destilar sensações. E que a alegria dessa jornada está mais em servir do que em extrair, mais na entrega do que na captura, mais no desfrute do que no usufruto, mais na busca do que na fuga.
Para esses, a esperança é a última que morre, pois descobriram a graça de viver com graça. A falta de graça é a incerteza, a dúvida de si mesmo, a rejeição, a culpa e o medo. Quando nos afastamos de nosso centro, sentimos tudo isso, mas a graça pode nos reconduzir ao melhor caminho. É só fazer a conversão e acertar a trajetória. Aquela cheia de graça, em que a vida é sagrada. E digna de reverência. Sempre.
[…] Para não perder nenhum detalhe aprecie também a versão escrita: Qual é a graça? […]