Apenas 10% dos trabalhadores fabris concordam que a missão da empresa seja relevante para o trabalho que realizam, informa uma pesquisa do instituto Gallup. Eles não se encantam com as palavras bonitas escritas em quadros pendurados na parede. Importam-se, na verdade, é com a estabilidade no emprego, a remuneração justa e o impacto que seu trabalho tem na sociedade (revista VocêRH, edição de março de 2015).
Epa! Tem algo aí que precisa ser entendido melhor.
Vamos ao primeiro item: estabilidade no emprego. Muito justo. Ninguém gosta de estar sob constante ameaça de desemprego, para si e seus colegas. Líderes que usam esse perigo para instituir o medo, apostando que tudo vai melhorar em um ambiente assustador, estão muito enganados e vão perder a aposta. Medo não traz nenhuma contribuição para o trabalho ou para qualquer outro aspecto da vida. Ao contrário!
Segundo item: remuneração justa. Sim, aqui também é unanimidade. Quem não gosta de trabalhar em uma empresa que consegue (e não é nada fácil) concretizar tal anseio generalizado?
Nada de novo, portanto, em ambos os itens. São fatores que evitam a desmotivação, mas não geram motivação – é sempre bom lembrar. Até aí, para as empresas que lidam bem com eles, é como jogar para o empate. Não criam condições para fazer gols. Quem dá a pista para a bola na rede é o terceiro item: o impacto do trabalho na sociedade.
Ora! Quem diria? Um operário de fábrica está preocupado com o impacto do seu trabalho na sociedade! Para quem não sabia disso, uma grande descoberta. Sim! Está aí um fio de meada de bom tamanho para líderes e empresas empenhados em construir uma equipe engajada e comprometida: as pessoas querem ser contributivas!
Mas preste atenção em uma sutileza que faz toda diferença: ser contributivo é diferente de ser útil. Em geral, operários são mais úteis do que contributivos. Compõem a empresa da mesma maneira que as máquinas e as ferramentas. São usados como qualquer outro recurso. Sabem disso, pois vivem o drama das demissões, quanto o cinto aperta, e das admissões, quando o cinto folga. São tratados como mão-de-obra e fazem parte do conjunto de custos variáveis, como as matérias-primas. Juntos formam o CMV (Custo da Mercadoria Vendida), conforme ensina a contabilidade. E, por isso, são descartáveis como qualquer objeto. Não são sujeitos. Objetos são úteis; sujeitos podem ser contributivos.
Voltemos, agora, ao princípio: 90% dos trabalhadores fabris não veem nenhuma relevância na missão da empresa. Do que estamos, efetivamente, falando? Que missão é essa? Será aquela que termina com “… para o retorno dos acionistas”?
Missão é o mesmo que propósito. E o propósito de qualquer empresa deveria estar voltado para fora, para o cliente, para o mercado, para a sociedade. Somente assim teria algum significado aos que fazem de seu trabalho uma contribuição para um propósito maior. Esse parece ser o desejo de todos, sem exceções: operários, atendentes, vendedores, porteiros, balconistas e líderes.
Um propósito superior é capaz de inspirar cada pessoa a buscar, dentro de si, o que de melhor tem a oferecer. É fundamental para transformar o empenho e o desempenho em uma riqueza superior.