Chuang-Tsé conta a história de um homem que não gostava de ver sua própria sombra nem suas pegadas. Para escapar delas, introduziu a pressa em sua vida. Só fazia correr e, quanto mais acelerava o passo, mais pegadas surgiam no chão. Pensava, então, que mesmo assim o ritmo ainda devia estar lento. Então, exagerava na ligeireza. Desembestava, campo afora, em busca de coisa nenhuma.
Refletindo sobre isso, lembrei-me daquele conceito clássico sobre administração de tempo, em que as tarefas e afazeres são classificados em duas categorias: as urgentes e as importantes. O homem da história parece viver o urgente: coisas demais, tempo de menos. E à medida que acelera, mais atribulado fica.
A típica lista de coisas-a-fazer nos remete à urgência: a meta a alcançar, o resultado a atingir, a mercadoria a entregar, o relatório a elaborar. Sem falar nos compromissos fora do âmbito profissional. Ao final do dia, resta apenas a checagem dos itens realizados e a frustração diante dos não realizados. “Faltou velocidade”, diagnostica o pobre desarvorado. E, no dia seguinte, repete tudo, mais rápido e desarvorado ainda.
As lições da administração do tempo recomendam que se dê atenção ao importante, em vez do urgente. Focar no que é necessário. O importante trata das necessidades, profissionais e pessoais. Os especialistas garantem que tratar do mais importante antes do mais urgente evita o imediatismo e os famigerados incêndios diários que congestionam as agendas.
Penso que não é só isso! Uma vida menos desequilibrada, talvez, mas as pegadas lá estarão, de toda forma, cobrando algo maior a ser feito. Nossas pegadas nos perguntam todos os dias: “essa é a melhor maneira de gastar o tempo?”. O tempo é a matéria-prima da vida. Então a mesma questão pode ser vista de outra forma, ainda mais contundente: “Esse é o melhor uso que pode ser feito da vida?”. Os rastros que deixamos denunciam todos os dias a qualidade da vida que vivenciamos.