Servir, uma sublime vocação

A prestação de serviços é considerada um dos ramos de atividade da economia, assim como o comércio e a indústria. Aliás, dos três, é o que mais cresce. Há quem denomine a atual era como a dos serviços, em lugar da industrial.

Diferentemente de abrir uma indústria, que exige uma planta concreta, com máquinas e equipamentos, e também do comércio, que requer uma loja, com balcões e acessórios, a empresa de prestação de serviços só precisa ter endereço (físico ou eletrônico), telefones e computadores. Quanto muito!

Sob essa ótica, é bem mais fácil e módico investir nesse ramo do que nos outros dois. Mas, pensando bem, todas as empresas prestam serviços. A única diferença é que sobre as empresas classificadas especificamente nessa rubrica recai a alíquota do ISS, o imposto sobre serviço. No mais, todas as empresas são prestadoras de serviços, embora – atenção para o destaque – poucas empresas sejam mesmo prestadoras de serviços.

E por que?

Serviço é uma palavra nobre. Não deveria ceder o seu nome a mais um tipo de imposto. Vista como um ramo de atividade ou como um encargo fiscal, fica destituída do que tem de nobreza: o seu real significado.

Se separarmos a palavra em duas – ser viço – começamos a enxergar a grandeza de seu sentido. A de ter viço, energia, força, vigor. Nessa acepção, serviço é mesmo uma palavra exuberante. Por isso, poucas empresas – incluindo as dos três ramos econômicos – são verdadeiras prestadoras de serviços.

A poetisa chilena Gabriela Mistral diz, em seus versos: “Toda natureza é um serviço. Serve a nuvem, serve o vento, serve a chuva”. Ou seja: a natureza é uma esplêndida prestadora de serviços! E continua: “há pequenos serviços que são bons serviços. Adornar uma mesa, arrumar seus livros, pentear uma criança”. Todos os serviços devem ser feitos com grandeza, não importa a sua magnitude. E arremata: “servir não é faina de seres inferiores”. Aqui a poetisa deixa claro que servir não é para qualquer um.

Nunca entendi porque os servidores públicos não gostam dessa denominação. Talvez porque não se orgulhem do que fazem ou nem se lembrem para quem fazem. Uma pena. Servir é sublime, como mostra a poetisa em seus versos e completa: “Deus que dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se assim: ‘Aquele que serve’.”

As empresas que aprenderam a servir se destacam, mesmo em tempos de crise. Servir é o melhor antídoto à mediocridade reinante.

É preciso compreender, no entanto, que serviço é mais uma atitude do que uma tarefa; mais uma virtude do que um ramo de atividade; mais uma cultura do que uma técnica.

Parafraseando Gabriela Mistral, servir é vocação de seres superiores!

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