Reuniões torturantes.

Você já deve ter participado daquelas sonolentas reuniões de resultados em que os relatórios econômico-financeiros são distribuídos para os participantes. Um relator narra os dados e a platéia apenas permanece no recinto, anestesiada. Está certo que a tecnologia oferece recursos para manter as atenções acesas, mas não há antídoto ideal contra relatórios em projeção. Ninguém se comunica. Números se embaralham num palheiro sem fim, sem sabor, (e) nem significado.

Quatro horas vazias. Sem uma só discussão construtiva! Nem mesmo sobre ações capazes de fazer o negócio progredir. Nada de idéias. Aprendizado zero.  Os relatórios são distribuídos, mas seu destino é o ostracismo imediato em algum armário, de onde só devem sair como lixo durante a impiedosa limpeza do final do ano.

Uma avaliação de resultados precisa ser interativa, não pode ser uma sessão de tortura. Deve contemplar os fatos e sua versão, ou seja, o que cada um deduz e conclui das informações quantitativas e qualitativas que recebe.

Uma boa avaliação de resultados deve provocar debate consistente, com a participação de todos, dispostos a dizer o que pensam e sentem, certos de que suas opiniões serão consideradas. É, sobretudo, um exercício de compartilhamento de percepções, de aprendizado, de aumento de compromisso e de criatividade.

Existem mais informações nas mentes e nos sentimentos das pessoas que fazem os resultados do que nos números que tentam expressá-los. Os números não traduzem toda a experiência, não identificam os bloqueios, não declaram as intuições, não denunciam as sensações subliminares, mas fundamentais para completar o quadro.

O que se espera de uma avaliação de resultados é que os desafios sejam renovados, as prioridades, reforçadas ou revistas e as responsabilidades, claras e definidas. Algumas perguntas que devem ser feitas na avaliação não podem ser respondidas apenas com base nos números. Uma planilha pode dizer se as prioridades estão corretas? Ou qual a percepção dos clientes? Ou se os desafios são muito ou pouco ambiciosos?

Os números são importantes, mas não devem ser o único foco em uma reunião de avaliação de resultados. O orçamento é uma ferramenta que pode (e deve) ser bem utilizada para que se chegue aos resultados pretendidos. Seu uso mais corrente é para fixar os custos e despesas. É comum ocupar-se mais tempo discutindo as despesas do que as receitas.

A discussão dos rateios das despesas é também uma sessão de tortura em muitas empresas. Alguns dirigentes até incentivam esse debate, dizendo que alguns departamentos possuem objetivos antagônicos por sua própria natureza. Galhofa! O que falta é visão de negócios. O orçamento elaborado de forma descentralizada e participativa proporciona sincronia entre as várias áreas e unidades de negócio da empresa.

O problema mais uma vez é que as pessoas querem ir cedo demais aos números ou mesmo ficam fixadas apenas neles. Comece com algumas idéias de negócios, de vendas e lucro. Busque os pontos de congruência e os fatores geradores de riqueza.

Nesse momento, também é importante elogiar os bons desempenhos e comemorar os progressos. Se você quer que as pessoas produzam resultados específicos, relacione o desempenho à recompensa. Um bom sistema de recompensa é aquele que diz às pessoas o que é valorizado e reconhecido e é onde cada um deve se concentrar. Quando uma empresa premia sua equipe pelo desempenho, fortalece a cultura voltada aos resultados. A remuneração variável é uma ótima alternativa para correlacionar empenho/desempenho/recompensa.

Ninguém se iluda, porém: todo o sistema de remuneração é imperfeito. A melhor forma de torná-lo mais justo é construí-lo de forma participativa. Recomenda-se que seja revisto a cada semestre e sempre que os objetivos estratégicos sejam reformulados.

Faça da sessão de avaliação dos resultados um momento de aprendizado e motivação, em vez de uma sessão de tortura. Lembre-se que o desempenho organizacional é decorrente do desempenho humano. Este, por sua vez, resulta dos sentimentos de estima, motivação, confiança e competência no grupo. Esses são os ingredientes geradores de resultados. Produza essa infalível mescla, em reuniões educativas e estimulantes.

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