Cinco perguntas para vencer a crise

Jan/2016

A crise tem o poder de nos colocar na defensiva. Quem está na defensiva busca por respostas. Respostas funcionam como paliativos às nossas expectativas, mas não nos colocam, necessariamente, a caminhar. Elas podem nos deixar estagnados, esperando por outras respostas, para perguntas que ainda nem fizemos, interiormente. Na atual conjuntura, as respostas costumam vir de fora, revestidas de lamentos e infectadas de lamúrias.

O que nos faz caminhar são boas perguntas. Elas nos ajudam a pensar e refletir, aguçam a curiosidade, abrem janelas de oportunidades, ampliam as possibilidades e nos levam ao reino da imaginação, lá onde a crise não tem lugar.

Escolhi cinco perguntas cuja reflexão, preferencialmente em equipe, pode mudar o curso da história ao longo do ano, anunciado como mais austero do que o anterior. Experimente pensar e conversar a respeito. Depois, aja.

Sua empresa está mais voltada para as oportunidades de mercado ou para a solução de problemas?

A questão chave, aqui, está em identificar o direcionamento da atenção. Para onde se dirigem as atenções? Para fora, olhando as oportunidades do mercado, ou para dentro, na solução de problemas que se repetem todos os dias, quase sempre os mesmos.

Uma empresa pode ser uma oficina de reparos ou uma usina de ideias. Se escolher a primeira opção, viverá mais o passado do que o presente e o futuro. Problemas não passam de reparos e consertos daquilo que não foi bem feito anteriormente.

Você pode arriscar uma resposta que mescle ambos os movimentos: voltada em parte para as oportunidades de mercado e em parte para a solução de problemas. Então lá vai mais uma provocação: quantas pessoas na empresa estão focadas em identificar e aproveitar as oportunidades de mercado e quantas estão voltadas à resolução de problemas? Quais os assuntos que mais dominam as reuniões e conversas no dia-a-dia?

Vale lembrar e frisar, ainda que soe óbvio: o lucro não está dentro, mas sim fora da empresa, no mercado, lá onde o cliente vive. Se as conversas estão em outra direção, as decisões e ações também seguirão no mesmo e equivocado sentido. Da mesma forma, os lucros. Ou seja, não haverá nenhum.

Você e a sua equipe conseguem enxergar as possibilidades que o mercado oferece mesmo em tempo de crise?

Em tempos de crise, os olhos se enchem de escamas, e ninguém consegue enxergar mais nada além dela e de seus desdobramentos.

Acontece que o mercado tem seus próprios mecanismos de sobrevivência e nunca padece. Não existe economia com demanda zero. Se problemas aparecem de um lado, oportunidades surgem de outro. É assim. Sempre foi assim. Assim sempre será. A oferta e demanda é considerada uma lei natural, assim como a da gravidade. Independentemente do que for feito ao planeta, a lei da gravidade continuará funcionando. Não importa o que se fizer na economia, a lei de oferta e demanda jamais será anulada.

Então, ao invés de pensar nas probabilidades do mercado, ou seja, naquilo que está se apresentando como provável, melhor pensar nas possibilidades do mercado, ou seja, tudo que a equipe consegue enxergar como possível. Sem as escamas nos olhos, evidentemente.

Existe, em sua empresa, um bom nível de ambição voltado à prosperidade?

Já vimos como se constrói uma crise: começamos a olhar mais para dentro do que para fora, mais para os problemas a resolver, e damos as costas ao mercado. Depois, somos tomados mais pelas probabilidades do que pelas possibilidades. Foi isso que as duas primeiras perguntas nos mostraram. A terceira etapa dessa triste novela está em pensar pequeno.

Pensa pequeno quem se concentra apenas em sobrevivência. Em tempos de crise, sobreviver parece ser uma conquista. Mas existe aí um engano e uma armadilha: sobreviver é tudo o que a crise espera que se faça, pois é a melhor maneira de lhe oferecer uma sobrevida.

Sobrevive quem não olha para fora em busca de oportunidades e quem prefere pensar nas probabilidades. Algo contra prosperar?

Há quem sinta vergonha de prosperar e de se sair bem em tempos de crise. É como se estivesse se afastando do rebanho, sem assunto para se ajustar às sombrias rodas de conversas lamuriosas. Pois saiba: prosperar é a promessa. Não fomos feitos, tampouco nossas empresas, para ter vida de poça d’água, que encharca e permanece estagnada por vontade alheia. Fomos feitos para viver a vitalidade de um rio.

O que é prioritário em sua empresa: o desenvolvimento humano ou o econômico?

A partir de agora, as perguntas oferecem boas pistas do que poderia ser diferente na gestão interna, depois de ter   redirecionado o olhar. A escolha entre o desenvolvimento humano e o econômico pode virar a chave e mudar o sentido.

Em tempos de crise, é comum buscar mais o desenvolvimento econômico do que o humano. Pior ainda: forçar a barra e suspender processos de desenvolvimento humano, sob o pretexto de que “agora não é hora, passada a crise a gente volta a falar no assunto”.

Acontece que desenvolvimento humano não é assunto, é razão de ser. É para isso que existem trabalho, empresa, negócio, mercado. Ao trocarmos as bolas, deixamos que a economia dê as cartas, embora ela seja só o meio através do qual a dinâmica acontece.

Entenda por desenvolvimento humano aquilo que é feito para clientes, colaboradores, fornecedores e outros agentes que participam do negócio. Dê prioridade a eles, antes do desenvolvimento econômico. E constate que a diferença nem é tão sutil.

A sua empresa está mais para uma “organização tradicional” ou uma “comunidade de trabalho”?

Se está mais voltada para uma organização tradicional, feita de comando e controle, normas e procedimentos, cargos e funções, então o humano, que precisa ser desenvolvido, está engaiolado. Pode expandir suas competências, mas não além do que a gaiola permite. Existem restrições à iniciativa, à autonomia e à criatividade. Elementos fundamentais para vencer a crise.

Se for mais parecida com uma “comunidade de trabalho”, então os valores virtuosos estarão no lugar das normas e procedimentos, o propósito do negócio trará a inspiração de que não são capazes os cargos e funções, e o modelo participativo de tomada de decisão ocupará o espaço do comando e do controle.

Uma “comunidade de trabalho” tem a excelência como cultura e nela predomina a relação de confiança entre os integrantes da equipe e com os clientes e parceiros.

A crise não dá conta de atrevimentos, principalmente quando eles se transformam em ações efetivas. Mas nada nos dá mais sentimento de orgulho nos negócios do que constatar que mais uma crise foi abatida. Outras virão, sabemos. Mas também já estamos conscientes de que, para superá-las, tudo começa com as perguntas certas.


Vamos conversar?