Agenda

Pode parecer estranho o que vou dizer, mas tenho observado, ao conduzir programas de liderança, que o problema maior do líder está em não saber o que deixar de fazer. Seu grande dilema, portanto, nada tem a ver com o que poderia parecer óbvio, ou seja não saber o que fazer. Vale frisar: saber o que não fazer é mais importante do que saber o que fazer. E poucos se dão conta disso.

Também por observar, acrescento outra constatação à primeira:  80% do que os líderes fazem não serve para nada!

Juntando ambas as deduções, estamos diante de uma boa e de uma má notícia. A boa é que os líderes possuem mais tempo do que podem imaginar, o que desmonta sua contumaz reclamação de que precisam de um dia com mais de 24 horas. Existe tempo disponível, mas em geral camuflado, gasto com coisas sem importância. A má notícia é que os líderes desconhecem a real importância de sua função, daí lidarem mal com o tempo, as prioridades e os resultados.

Antes de prosseguir, vale um esclarecimento. Não é bem verdade que certas coisas feitas pelos líderes são mesmo desimportantes. Até mesmo têm importância, embora não para a agenda de um líder. Essa é uma das questões: líderes se metem em coisas que não deveriam ser da sua conta e, assim, impedem seus colaboradores de evoluir e desenvolver autonomia.

Outras coisas são desimportantes devido à relação empenho/desempenho, ou seja, gasta-se tempo com algo de baixo rendimento e que não justifica o volume de esforço despendido.

Finalmente, algumas coisas que necessitam ser feitas não precisam ser perfeitas. Mania de perfeição é mais uma doença do que uma qualidade. Nem tudo tem de ser feito no estado da arte.

O fato é que empenhar-se no que é desnecessário ou pouco fundamental drena a energia que poderia ser investida no que verdadeiramente importa.

E o que verdadeiramente importa?

Aqui vale uma pausa para reflexão. Você já ligou para algum cliente hoje? E ontem? Em algum dia desta semana ou da anterior?

Caso a resposta seja perto de zero, é bom rever o seu entendimento sobre o que é importante e o que é desimportante. Está aí uma pista para descobrir prioridades. Se você acredita que o contato com o cliente é função do departamento comercial e dos vendedores, está aí outra pista para descobrir aonde se concentram as atenções de todos na empresa. Lembre-se: todos nós temos clientes! Nas empresas, não há exceção.

Continue a reflexão. Se conversou com clientes, quantos foram? Qual foi o critério de escolha? Elegeu apenas os mais amigos ou incluiu, também, aqueles que – vez por outra – você sente vontade de torcer o pescoço?

Caso tenha se comunicado com poucos clientes e nenhum da categoria dos zangados, então você está deixando vazar boas oportunidades de negócios. Clientes insatisfeitos dão boas dicas sobre o que deve, mesmo, constar da agenda dos líderes.

O real interesse pelo outro

Dale Carnegie é um desses fenômenos do mundo editorial. Escreveu “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, em 1936. Trinta milhões de exemplares vendidos depois, a obra de quando em quando reaparece nas listas de best sellers. Nela, Carnegie declara: “podemos fazer mais amigos em dois meses nos interessando pelos outros do que em dois anos tentando fazer com que os outros se interessem por nós”.

É isso! Carnegie sabia o que verdadeiramente importa no mundo dos negócios e na agenda do líder. Ele não se refere a cliente, mas a amigo. Leia-se cliente e a frase dá conta do recado. É até bom que ele não tenha explicitado. Assim, podemos estendê-la para os amigos pessoais, pois nem sempre vale apenas para o cliente. Se você é líder, então saiba que quando não estiver ligado no cliente, trate de concentrar-se em quem está ligado no cliente: o colaborador. Volte à frase do Carnegie e substitua amigo por colaborador e o efeito é o mesmo.

Retorno à agenda

Negócios têm regiões de lucro. Essas regiões de lucros são os lugares onde os clientes estão. Nenhuma delas se localiza dentro da empresa, onde existem apenas regiões de custos. Zelar pelas despesas é diferente de cuidar das receitas. As despesas pertencem à empresa; as receitas, ao negócio. O negócio é o fim a que se propõe a atividade empresarial; a empresa é o meio para que o negócio aconteça. Então começa a ficar mais clara a questão inicial: o problema maior do líder está em não saber o que deixar de fazer. Coisas do negócio ou coisas da empresa? Eis um bom crivo!

Crie uma agenda de líder. Defina, primeiramente, tudo o que não precisa ser feito. Comece por indagar: isso ajuda a resolver o problema do cliente? O cliente pagaria por isso? Isso agrega algum valor ao negócio? Isso é gerador de resultados? Se a resposta for negativa para todas as questões sugeridas, elimine o ítem de sua agenda e percorra o mesmo caminho em relação a outros. Logo sentirá o alívio que é descobrir quanto tempo estava desperdiçado em tarefas desnecessárias.

Defina, agora, o que precisa ser feito, mas não necessariamente por você. Aposto que já esteja sacando a inclusão de novos desafios em sua agenda. Então, delegue tudo o que precisa ser feito, mas que não merece ocupar o seu tempo e a sua atenção. Faça isso confiante de que alguém em sua equipe dará conta do recado. Quiçá melhor do que você, para a alegria de todos. E agradeça ao ver mais tempo aparecer em sua agenda.

Liste agora tudo o que pode e deve ser feito por você. Certamente, os desafios do negócio, as estratégias de captura de resultados na região de lucro e as relações com os clientes e com quem se relaciona com os clientes.

Depois disso tudo, é possível que haja ainda mais tempo disponível. Então faça bom uso desse alívio, criando uma agenda de superação. Inclua novos aprendizados, sobretudo aqueles que estejam no campo da liderança e dos relacionamentos. A agenda do líder tem de abrir espaço para ampliar o foco no sistema humano, formado por colaboradores e clientes. E ainda, de sobejo, verá que sobra tempo e disposição para a vida pessoal e o ócio criativo.

 


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