Livre-se de fardos inúteis

As histórias de Nasrudin, da tradição sufi, trazem ensinamentos que circulam em todo o Oriente Médio e avançam para outras culturas. A que reproduzo, a seguir, está entre as que mais aprecio.

Conta que Nasrudin estava à margem do rio e queria passar para o outro lado. Como as águas estavam muito agitadas, seria muito perigoso fazer a travessia a nado. Ele, então, avistou uma pequena canoa presa na vegetação ribeirinha. Agiu rapidamente, colocando a embarcação no leito do rio e pôs-se a remar para o outro lado, onde conseguiu chegar sem sobressaltos.

Assim que botou os pés em terra firme, suspendeu a canoa, colocou-a nas costas e continuou a sua caminhada rumo à floresta. Algumas pessoas que viam toda a cena ficaram espantadas com aquela atitude surpreendente.  Foram até Nasrudin e lhe perguntaram: “Por que você fez isso? Vai continuar carregando a canoa? De que lhe servirá, já que a travessia do rio foi concluída?”

Nasrudin, suado e cansado pelo esforço de sustentar tanto peso, respondeu: “Essa canoa me ajudou muito. Não posso abandoná-la. Espero que agora ela me auxilie, também, a atravessar a floresta”.

E, dessa maneira, termina a história que, como tantas outras de Nasrudin, carece de mais explicações, para permitir a elaboração de várias inferências.

Assim é também na empresa. Lance uma campanha premiando as coisas mais estúpidas, feitas sem nenhuma importância e utilidade, e se espantará com o tanto de prêmios que terá de distribuir já na primeira temporada. Você poderá constatar que a maioria delas não passa de “canoas” levadas às costas por conta de, em alguma ocasião, terem sido úteis.

Seu espanto vai aumentar ainda mais ao constatar que certas canoas existem apenas pela  probabilidade de serem usadas “qualquer dia desses”. A eventual necessidade jamais acontece ou, se de fato ocorresse, talvez não precisasse do tipo de canoa penosamente carregada.  

A canoa é a metáfora do passado e do nosso apego a ele. Quando ficamos reféns dele e de nossos preconceitos e precauções, inventamos pesados e inúteis fardos em nossas vidas. Aceitamos levá-los, muitas vezes sem nos darmos conta do quanto de esforço nos custam. Caso esteja com algum às costas, trate de abandoná-lo. E sinta o prazer de caminhar com leveza! 

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CLÓVIS LIMA JÚNIOR
CLÓVIS LIMA JÚNIOR
7 anos atrás

Mestre Roberto, perfeito!
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