Lições do futebol: a vitória do impossível

Há quem pense que o maior vexame do Brasil foi a derrota diante da Alemanha por 7 x 1, em 2014. A história do futebol brasileiro, no entanto, registra em seus anais um drama bem mais sofrido: o final da copa de 1950.

O Maracanã, maior estádio do mundo, foi construído para aquela ocasião. No dia 16 de julho de 1950, estava lotado, com um público estimado de mais de 200.000 pessoas. O Brasil era o franco favorito. Vinha de várias vitórias e goleadas: ganhou do México por 4×0, da Iugoslávia por 2×0, da Suécia por 7×1 e da Espanha por 6×1. Além de invencível até aquele momento, ainda tinha a vantagem de jogar em casa, contando com fervoroso apoio da torcida. Assim, os brasileiros armavam seus fogos para comemorar, os jornais tinham suas capas preparadas e os políticos haviam escrito de antemão os seus discursos. Em vão. O Uruguai venceu o Brasil por 2×1.

Conta-se que o estádio emudeceu. Não se ouvia uma mosca. Alcides Ghiggia, o autor da façanha, nunca ouviu o grito de gol, pois os raros uruguaios presentes ao estádio sequer se atreveram a comemorar. Passada a catatonia, foi o maior choro coletivo da história do futebol brasileiro.

O triste drama tem outra trama, pouco conhecida. E se passou no Uruguai, onde – antes – os jogadores, explorados pelos seus clubes, exigiram a atuação de seu sindicato. Resolveram fazer greve. Não havia mais jogos aos domingos, para tristeza dos torcedores, embora reconhecessem o movimento como legítimo.

Obdulio Varela

Os dirigentes cruzaram os braços e deixaram o barco correr. Acreditavam que a fome falaria mais alto e logo os grevistas recuariam de suas intenções. Para surpresa dos cartolas, o jogo de braço foi mantido, para a medição de força. O volante Obdulio Varela, preto, semianalfabeto, pedreiro, liderava e estimulava seus companheiros de esporte a não se render. Foram sete meses de confronto, até a vitória.

Um ano depois, a seleção uruguaia conquistou a taça do mundo. Naquele fatídico dia para os brasileiros, lá estava Obdulio, um velho de 42 anos, jogando com o tornozelo inflamado, incansável. Era o capitão do time e o herói de mais uma conquista impossível.

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