Como é bom saber

João da Silva analisa os últimos indicadores de desempenho. “Puxa, se continuar nesse ritmo não vou atingir o que estipulei para este mês. Pior ainda, nem vou conseguir dar minha contribuição para os resultados da empresa. Preciso fazer alguma coisa!”

 

Por onde começar? João da Silva se lembra dos conceitos da empresa plena. Sabe que precisa agir considerando o equilíbrio entre corpo, mente e alma. Sabe que a redução dos estoques (corpo) em sua área de responsabilidade, na fábrica, concorreria   para os resultados da empresa, mas isso teria de ser feito sem afetar a promessa de cumprir prazos com os clientes (mente). Sabe, também, que se mantiver contato direto e estreito com a área comercial e o pessoal da programação da produção (alma) pode deixar os estoques em  um tamanho adequado, sem  prejudicar a qualidade do fornecimento aos clientes.

 

João da Silva recorda como era a comunicação na empresa, anteriormente: “Informação, só de ouvir falar! O que recebia, dia após dia, eram ordens de produção. Jamais lhe diziam quem eram os clientes e que tipos de benefício todas aquelas mercadorias geravam. Só dava para entender é que a máquina não podia ficar parada nem deveria haver desperdício. E nunca lhe mostravam os resultados. “A gente sabia quando as coisas não iam bem pela cara sisuda do chefe. Ah! O Antônio, nosso encarregado! Quantas broncas levei dele por causa das devoluções dos clientes. Uns chatos, eu pensava, para falar a verdade. Agora não acho mais! Eles apenas querem aquilo que foi prometido e cumprir esse acordo é o mínimo que temos de fazer. É uma questão de dignidade!”

 

Firme em suas lembranças, João conta sobre sua estranheza. “Puxa vida, mas por que não disseram logo quais eram as necessidades dos clientes? Minha ficha só caiu depois que a empresa convidou alguns deles para falar conosco, sobre a qualidade do fornecimento. Foi quando entendi que o buraco era mais embaixo. Não era à toa que o pessoal do comercial ficava tão nervoso. Mas nós nunca conversávamos. Antônio vivia dizendo: ‘É assim mesmo; a produção não se dá com o comercial. Era assim também em meu emprego anterior’. Pobre Antônio! Tenho a impressão de que ele foi demitido sem saber que produção combina com comercial, do mesmo jeito que o café com o leite e o arroz com o feijão. Mas, para isso, é preciso conversar, ajustar as percepções, coisas que não fazíamos, antes.”

 

E continua com suas reflexões. “Como foi bom ter ouvido o cliente! Percebemos coisas que antes eram meras suposições. O mais importante foi descobrir o que, agora, nos parece tão óbvio: temos uma causa comum. Satisfazer o cliente e superar as suas expectativas. Resta muito por fazer no mercado. E pensar que um de nossos diretores, precipitado, cogitou desativar toda uma linha de produtos. Sem uma análise completa e em profundidade, apenas levando em conta uns números errados, como soubemos depois. Era um tal de ratear os custos fixos da empresa para os produtos, cortar alguns onde não devia e manter outros dispensáveis.  Um belo angu-de-caroço!”

 

“Esse nó foi, finalmente desatado”, conta João. “Como foi bom ter adotado o conceito de margem de contribuição! Agora sabemos quem é quem no conjunto de produtos da empresa. Quando, em nossas reuniões, a gente junta os números com as informações de mercado aparece cada ideia! Saímos dali com uma tremenda sede de implementá-las. Mas, antes, esses encontros eram muito diferentes. Só existiam quando as coisas não iam bem. Nem preciso falar do clima reinante! Meus dedos dos pés ficavam encolhidos. Os chefes pediam ideias. Ora! Quem consegue tê-las com os dedos dos pés encolhidos? E a coisa sempre terminava com um alerta sombrio: ‘Olhem lá, heim, fiquem espertos!’ Pelo jeito, nem um pouco didático, porque saíamos da empresa e íamos para o boteco tomar nossas cervejinhas. Aliás, a gente nem sabia que o recado era para nós. Achávamos que era problema deles, os chefes. Hoje não temos a menor dúvida: é problema nosso, é problema meu!”

 

Entre os costumes que se alteraram, com a nova compreensão do todo, está o olho no relógio de ponto. “Não temos mais compromisso com o horário. Acabamos com o ‘banco de horas’ controlado pelo departamento pessoal.  Nosso compromisso é com o cliente e os resultados. As desgastantes reuniões sobre quem devia hora a quem foram substituídas por outras, com temas muito instigantes, como falar sobre clientes, resultados e nós mesmos, a equipe.

 

As cervejinhas continuam, mas depois do dever cumprido. Na fábrica, brincamos com o lema: “Dever cumprido, prazer garantido!”

 

Cheio de entusiasmo e gosto pelo trabalho, João conclui suas lembranças, voltando ao ponto de partida. “Ah! Sei que recordar é viver, mas não posso perder tempo. Preciso fazer um estudo de simulação no computador para ver até onde posso reduzir meus estoques e que tipo de contribuição vou gerar para a empresa no final do mês. Sei que posso encontrar uma boa solução. Como foi bom aquele treinamento. Ah! Descobri que aprender é muito bom! Muda completamente a nossa vida.”

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