Aprender requer autonomia

As escolas ainda não perceberam que memorização não é a mesma coisa que aprendizagem. Decorar é apenas uma técnica. Mais distante ainda de aprendizagem é considerar que memorizações de outras pessoas sejam respostas finais ou gabaritos para os aprendizes, anulando qualquer possibilidade de conduzi-los a pensar por conta própria.

Com isso não quero dizer que reflexões alheias careçam de relevância, mas é preciso que se leve em conta as condições e circunstâncias como esses pensamentos ocorreram a essas pessoas. O problema é que o excesso de reverência às “autoridades no assunto” diminui a possibilidade do aprendiz chegar a ter “autonomia no assunto”, sem a qual jamais existirá a verdadeira aprendizagem.

Recentemente, durante uma sessão educativa que eu conduzia, determinada participante usou uma imagem significativa para explicar o seu processo de aprendizado: ela se sentia impelida a sair de um ponto A para um ponto B, mas, como acontece com um elástico ao distender-se, retornava ao ponto inicial. Assim, mesmo diante de novos conhecimentos, ela sempre voltava à estaca zero.

Gostei da interessante comparação, que funciona como uma deixa para mostrar a diferença entre conhecimento e consciência. Conhecimento é tomar ciência de algo até então desconhecido. Chamamos de ignorância o fato de desconhecer determinado assunto, que, uma vez revelado, tratamos de memorizar para não esquecê-lo, embora isso não assegure a aprendizagem.

Infelizmente, a maioria das escolas se dedica a reproduzir matérias que sejam memorizadas pelos alunos, para se submeterem a avaliações periódicas, por meio de provas. Depois, livres e autônomos, eles regridem a seus pontos de origem. Não é de admirar que muitos estudantes estejam fartos e descontentes com tal modelo, que os impede de aprender de verdade.

O que assegura a aprendizagem é a expansão de consciência, que só assim jamais retornará ao seu ponto inicial. O efeito elástico só é evitado quando o aprendiz se reconhece como alguém capaz de expandir as próprias percepções e, portanto, de criar o seu próprio mundo.

Ao atingir tal patamar, com seu próprio discernimento, o aprendiz coloca luz sobre as suas ilusões, trocando miragens por imagens. Chamamos de inconsciência o estado de breu, até que a luz desperte a consciência. O processo legítimo de aprendizagem implica introspecção, reflexão, observação e significação. É individual e depende de completa autonomia. A boa arte de aprender gera indivíduos que – parafraseando Leonardo da Vinci – nunca se cansam, nunca tem medo e nunca se arrependem.

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